Vendas de Natal
É do peru
Brasil quer incentivar consumo da ave além do Natal e seguir os passos do frango no mercado global
Após ter atingido um patamar invejável no setor de frangos, com produção anual de 13 milhões de toneladas, a indústria do setor agora volta os olhares para o peru.
Apesar de o Brasil ser o segundo maior exportador e o terceiro maior produtor mundial da ave, sua participação ainda é pequena no comércio exterior e no consumo interno em relação às demais carnes, como frango e bovinos.
A Abpa (Associação Brasileira de Proteína Animal) quer mudar esse cenário. Internamente, a associação vai investir em marketing para que o consumo de peru não fique restrito às festas.
A associação quer que o consumo, limitado principalmente ao período de Natal, estenda-se por todo o ano. Uma outra aposta do setor é elevar a produção e o consumo de embutidos (derivados dessa carne).
A Abpa acha que essa aceleração de consumo é possível. A demanda por carnes, de uma forma geral, cresce no país. E a procura pela carne de peru segue essa tendência, até com ritmo maior do que o das outras. Neste ano, o crescimento é de 6% em relação ao do ano passado.
Uma das amostras de que o consumo se concentra nas festas de final de ano é que os preços, a poucas semanas desse período, já começam a subir para o consumidor.
Em queda até agosto, a carne de peru subiu 2% em setembro e 5,3% no mês passado no varejo de São Paulo, segundo pesquisa da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).
Externamente, o Brasil quer que o peru siga os passos do frango, cuja carne brasileira já está espalhada por quase todos os países do mundo. O volume mundial comercializado de carne de peru é bem menor, mas a remuneração por essa proteína é maior.
O Brasil tem sido procurado por diversos países importadores de carne de peru, mas ainda não tem uma produção interna que possa atender a esses mercados.
Francisco Turra, presidente-executivo da Abpa, diz que "o Brasil, que já é o segundo maior exportador mundial, tem condições de elevar, e em muito, as receitas com as vendas externas dessa proteína, principalmente para os países europeus".
RÚSSIA
A procura pela carne do peru brasileiro aumentou com a investida da Rússia no setor de carnes do Brasil, após as barreiras colocadas pelo governo Putin aos produtos dos países industrializados.
Grande consumidora, a Rússia barrou as importações dos Estados Unidos e da União Europeia, os dois principais produtores mundiais dessa proteína.
O México também pode ser um bom mercado para o país. "Eles fizeram um pedido de importação de 100 mil toneladas neste ano, um volume próximo de 30% do que o país produz", diz Turra. Os frigoríficos aptos a exportar estão sendo liberados, mas o Brasil não terá condições de atender a esse pedido.
A produção mundial de carne de peru é de 5,3 milhões de toneladas por ano. Com a terceira maior produção, o Brasil participa com um percentual próximo de 10% desse volume. No início dos anos 2000, o país era o nono maior produtor mundial.
Em 2013, a produção brasileira, que havia sido de 442 mil toneladas em 2012, recuou para 364 mil toneladas devido à paralisação de uma das empresas produtoras.
"No ano que vem, as indústrias devem voltar a produzir acima de 500 mil toneladas. Com isso, as exportações poderão atingir 280 mil toneladas, ante 161 mil no ano passado", afirma o representante da Abpa.
Neste ano, apesar do aumento de consumo, produção e exportação serão menores do que em 2013.
CAUTELA
Mas os investimentos no setor serão feitos com cautela, acredita Turra. Ao contrário do frango, cuja produção é de ciclo curto, a criação do peru demora de cinco a seis meses, diz ele. Produtores e empresas precisam ter certeza de que vão ter mercado para o produto.
"O principal mercado para as exportações brasileiras é a Europa, que comprou 92 mil toneladas em 2013", diz Ricardo Santin, vice-presidente de aves da Abpa. "Os europeus e os norte-americanos têm um consumo mais regular durante o ano do que o dos brasileiros, que se concentra nas festas", diz.
O consumo brasileiro per capita é de 1,7 quilo por ano. Nos EUA é de 7,4, e, na União Europeia, de 3,4 quilos.
O volume mundial de 5,5 milhões de toneladas de carne de peru ainda está bem distante do das outras proteínas. A produção de suínos chega a 111 milhões de toneladas por ano; a de frango, a 86 milhões, e a bovina, em 60 milhões.