Mercado - MPME
Fundadores de start-ups abrem o jogo sobre pressão de investidores
Empresários dos EUA usam a internet para desabafar e pedir que colegas não se sintam sós
Entrada de fundos no negócio é comemorada, mas também provoca cobranças para que o negócio cresça rápido
Nos dias de semana, por volta das 5h30 ou até mais cedo, Ryan Hoover, 27, pula da cama em San Francisco e começa a se preocupar. Sua start-up, a Product Hunt, tornou-se sucesso entre os antenados do Vale do Silício, com duas rodadas de capitalização completadas em menos de um ano de existência.
O site e o aplicativo para o iPhone destacam outros novos aparelhos e apps bacanas, coletados muitas vezes por pessoas que são as primeiras a descobri-los. O projeto recebeu uma segunda rodada de capitalização de US$ 6,1 milhões, que o avalia em US$ 20 milhões.
Hoover pega seu iPhone e aciona o app que usa para acompanhar o tráfego do site. "Isso me estressa, porque estamos com 10% de queda nos visitantes." Agora, com investimentos, "é ainda mais importante que mantenhamos os números em alta", diz.
A luta dos criadores de empresas vem sendo objeto de mais discussão pública recentemente. Os empreendedores muitas vezes temem, com razão, que seus funcionários, investidores e clientes os abandonem caso percebam que a companhia está enfrentando problemas.
Sam Altman, presidente da Y Combinator, uma renomada aceleradora de start-ups (empresas iniciantes), recentemente postou um artigo muito lido em seu blog, intitulado "a depressão dos fundadores", e encorajou os empreendedores a falar sobre seus problemas. "É importante que você saiba que não está sozinho e não precisa se envergonhar", escreveu.
DEPRESSÃO
Rand Fishkin, fundador da Moz, uma companhia de software para marketing, também encontrou sucesso viral ao escrever um post franco em seu blog sobre um surto de depressão que começou com o atraso no lançamento de um produto e terminou com sua renúncia à presidência-executiva da empresa. Acumular dívidas de US$ 500 mil nos cartões de crédito e ter de fugir dos credores enquanto tentava desenvolver a companhia durante a crise financeira não foi o que o abalou.
A responsabilidade pelo desenvolvimento "mal executado" de um novo produto e a sensação de que a companhia precisava de uma mudança de rumo que ele seria incapaz de prover foram as razões de seu afastamento.
"A maioria dos e-mails que recebi dizia que o remetente havia enfrentado o mesmo problema um dia", diz Fishkin. "Existe muita pressão sobre os criadores e presidentes-executivos de empresas novas para que sempre exibam, se não números, pelo menos a confiança de que estão caminhando para a frente, para cima.
Obter dinheiro é muitas vezes visto, em si, como uma vitória, mas também significa que a empresa estará sob pressão para ganhar, e ganhar muito, com ritmo de crescimento inédito para qualquer empresa, exceto uma start-up de tecnologia.
A empresa de Fishkin, chamada Moz, vendeu 17% de participação por US$ 18 milhões a grupos de capital de risco. Os investidores comuns do setor esperam ver retorno de 1.000% sobre esse capital.
"Isso que significa que precisávamos descobrir de que maneira a empresa poderia, em alguns poucos anos, atingir valor de mercado de centenas de milhões de dólares", diz o empreendedor.