Crise abala fama de elétricas de boas pagadoras de dividendos
Falta de chuva e endividamento comprometem desempenhos
As ações das companhias do setor elétrico, favoritas dos investidores que têm foco em bons pagamentos de dividendos, passam por um momento difícil, mas ainda inspiram expectativas positivas.
A queda na distribuição de dividendos por parte das empresas do setor beira os 20% nos últimos dois anos, segundo cálculos do economista Clodoir Vieira, da consultoria Compliance.
"De setembro de 2010 a setembro de 2012, as elétricas pagaram R$ 34,64 bilhões em dividendos. Esse número caiu para R$ 27,94 bilhões no período seguinte, de setembro de 2012 a setembro de 2014."
A partir da lei nº 12.783, de janeiro de 2013, que visava reduzir a conta de luz, as mudanças nas regras de concessão afetaram os ganhos de algumas dessas empresas.
Às voltas com a ameaça de racionamento causado pela recente escassez de chuvas, geradoras tiveram de recorrer a fontes mais caras, como as termelétricas, endividando-se e achatando ainda mais a rentabilidade.
"De dois anos para cá, quando a presidente resolveu, com uma penada, baixar o preço da energia, todo o setor se desestruturou, daí a necessidade de o governo ajudar as empresas com empréstimos. Essa confusão generalizada atingiu o ápice neste ano, com a falta de chuvas", afirma Fernando Leitão, diretor da Hoya Corretora.
Mas o atual cenário de diminuição da margem líquida do setor, que vem abalando a distribuição de dividendos, não significa que, necessariamente, as companhias continuarão pagando menos no futuro, segundo Fabiano Guasti Lima, pesquisador do Instituto Assaf.
É que, historicamente, as elétricas estão entre as melhores pagadoras. Isso ocorre porque elas já possuem infraestrutura montada --não precisam manter novos e altos investimentos-- e têm geração de caixa constante.
MOMENTO
O baque atual nos dividendos é circunstancial, na opinião de Mário Amigo, professor de finanças da Fipecafi.
"Há uma série de circunstâncias que não necessariamente vão se propagar", diz Amigo, citando o baixo nível de chuvas, que reduziu a capacidade de distribuição de energia, e a obrigatoriedade de ajustar a oferta em leilões de custo mais alto.
Para Bruno Piagentini, analista da Coinvalores, as elétricas continuam sendo um setor atrativo para a distribuição de proventos.
"É importante para o investidor que busca dividendo ter atitude mais seletiva. Mas é um setor em que a demanda tende a ser constante", diz.
Ele cita companhias que, apesar de terem perdido parte da previsibilidade do fluxo de caixa, conseguiram conservar os dividendos, como a Light e a Copel.
Em 2014, os proventos (dividendos e juros sobre o capital próprio) oferecidos por companhias abertas brasileiras ficaram em R$ 0,63 por distribuição até o início deste mês, segundo estudo do Instituto Assaf com base em dados da BM&FBovespa.
Já o setor de energia distribuiu em média R$ 0,64 por evento de distribuição de proventos em 2014 até dezembro.
Como base de comparação dos patamares superiores das companhias elétricas no passado, em 2008, enquanto a média dos proventos por ação ficou em R$ 0,81, o setor de energia registrava R$ 1,81.