Em Miami, cubanos se dizem otimistas, mas cautelosos
Por acaso ou destino, o acordo entre EUA e Cuba foi anunciado no dia de São Lázaro, o "santo milagroso" venerado pelos cubanos.
O 17 de dezembro é dia de pagar promessas e levar oferendas ao santo. Em Miami, na Flórida, Estado que abriga mais de 70% dos imigrantes cubanos nos EUA, também foi dia de comemoração.
Para eles, o acordo pode significar o fim do regime em Cuba. "É o começo do fim para os Castro", disse Yabo, 64 anos, há 35 nos EUA.
"Já estava na hora de isso acontecer, as pessoas em Cuba estão sofrendo há muito tempo", afirmou.
Centenas de pessoas se reuniram na Igreja de São Lázaro, em Hialeah, um subúrbio de Miami, para um procissão que acontece todos os anos em homenagem ao santo. "Para mim, não é coincidência isso ter acontecido nesse dia. É um santo poderosíssimo", disse Yabo.
Yanin Salem, 60, afirma que a decisão vai gerar muitos problemas. "As pessoas estão acostumadas à mão de ferro há muito tempo. E agora, com liberdade, não vão mais querer voltar a viver do mesmo jeito. Isso vai gerar uma guerra civil em Cuba."
A vida dos cubanos nos EUA, no entanto, não muda muito, segundo eles. "Isso não nos afeta em nada, porque não temos problemas aqui, já temos liberdade. O problema é o socialismo. Cuba é um país em ruínas", afirmou Eliana Cruz, 50, que vive há sete anos no país.
DESCONFIANÇA
Entre os dissidentes cubanos que vivem na ilha e no exterior, a reação foi de surpresa e desconfiança.
Apesar de considerar a decisão anunciada pelos dois governos como o "fim de uma era", a blogueira opositora cubana Yoani Sánchez, 39, foi uma das primeiras a questionar a "vitória castrista".
Para Yoani, os cubanos podem aguardar "semanas de aclamações", nas quais o regime "se proclamará vencedor de sua última batalha".
O jornalista cubano Alejandro González, 56, integrante do chamado "Grupo dos 75" --formado por presos políticos detidos em 2003--, comemorou o acordo. Ele diz entender que o regime deu este passo "mais movido pela necessidade que pela vontade".
"O governo cubano está numa situação econômica horrível, a Venezuela, sua aliada, também passa por uma crise inédita. O governo não tinha alternativa, mas quero pensar que há um compromisso para avançar", disse à Folha González, que foi libertado em 2008 e seguiu para a Espanha, onde vive até hoje.
Para ele, é preciso saber agora se a aproximação com os EUA "se traduzirá em benefício para o povo cubano".
A exilada Elena Larrinaga de Luis, que dirige o Observatório Cubano de Direitos Humanos, em Madri, classificou este como um "momento histórico", mas evitou demonstrar muito otimismo. "A gente sempre fica na dúvida sobre a vontade política real do regime cubano", disse.