Mercado do saber
Crescimento no número de cursos de especialização será alavancado pelas áreas de exatas, tecnologia e saúde; alta deve superar a da graduação
Uma em cada três instituições de ensino privadas no Brasil oferece cursos de pós-graduação na modalidade lato sensu, segundo um estudo da consultoria Hoper.
O segmento movimenta de R$ 4 a R$ 5 bilhões ao ano e está concentrado nos Estados de São Paulo, Rio, Minas Gerais e Paraná, que representam 56% da oferta.
Nas instituições particulares, o lato sensu é dominado por cursos na áreas de gestão e negócios, que representam um terço do total da oferta e canalizam 34% dos alunos.
"Uma variável importante nesse mercado é 'aquilo que funciona'. É mais conveniente e mais fácil formatar cursos na área de gestão e negócios", afirma Romário Davel, consultor da Hoper.
Segundo o diretor de pós graduação da Faap, Victor Mirshawka Jr., um dos fatores que explica o volume de cursos nessa área é que ela atrai graduandos de formações distintas.
"Mesmo havendo conhecimento técnico, até certo ponto é a formação comportamental ou humana que faz o profissional evoluir na carreira. Por isso a pós em administração é tão procurada por engenheiros, arquitetos."
Cursos de direito ficam em segundo lugar na quantidade de matrículas do lato sensu, com outras 30% delas.
De acordo com o consultor Davel, por serem mais rentáveis do que a graduação, os cursos lato sensu equilibram as contas e são responsáveis, em parte dos casos, pela manutenção das instituições.
"Não é uma área regulamentada pelo MEC, o que possibilita diversos modelos acadêmicos", afirma ele.
Há uma quantidade mínima de horas, mas os encontros podem ser semanais, quinzenais. Isso reduz muito o custo para a instituição.
Embora seja difícil projetar o crescimento do lato sensu (o MEC só começa a contabilizar os cursos neste ano), a consultoria Hoper estima que a alta da modalidade superará a da graduação, que cresceu 4,5% de 2012 para 2013, segundo o MEC.
O aumento mais expressivo na oferta de cursos, segundo Davel, deve ser na área de exatas e tecnologia, que, contudo, absorvem fatia pequena de alunos, cerca de 9%.
Em segundo lugar, ele prevê incremento na área da saúde. "É um crescimento proporcional ao que acontece na área de graduação", afirma.
extensão
Instituições de São Paulo dizem estar investindo em cursos de extensão, mais focados e com duração mais curta, de até um ano.
"Uma especialização, com 360 horas [carga horária mínima designada pelo MEC], é um compromisso às vezes incompatível com a rotina de quem trabalha", afirma Márcia Flaire Pedroza, assessora da pró-reitoria de educação continuada da PUC-SP.
Para 2015, a universidade aposta nessa modalidade na área de tecnologia, com cursos como crítica de videogame e técnicas de 3D.
"Os alunos querem vir, receber a formação e se mandar. Daqui a seis meses estão no mercado, colocando em prática o aprendizado", diz Sergio Lex, decano de extensão do Mackenzie, que tem quase 300 cursos com duração de 32 horas em média.
Segundo Mirshawka, diretor de pós da Faap, a vontade dos alunos de concluir cursos mais rapidamente incentiva a "modularização" dos cursos. "O aluno pode comprar 120 horas para ter o conhecimento, ou comprar as 360 horas e obter o certificado de lato sensu no final".