Sexo forte
Brasileiras têm evolução no ciclo olímpico e assumem protagonismo inédito
Wanda dos Santos dialogava com o jornalista Caetano Carlos Paioli a bordo do Panair que levava a delegação brasileira até que ambos estranharam a perda de potência do avião. "Parece que um motor parou", disse Paioli.
Ela deu de ombros. Pensava em sua segunda participação olímpica, no atletismo.
Ao aterrissarem em Roma, para os Jogos de 1960, quase saltaram do assento ao ouvirem do piloto que, de fato, um dos motores havia pifado. Hoje, aos 83, Wanda ri. Se o pior acontecesse, o Brasil não teria uma única competidora no evento. "Eu fui a única mulher na delegação."
A história de Wanda simboliza uma era que não existe mais. A um ano dos Jogos do Rio, as mulheres assumiram um protagonismo inédito para as pretensões do país.
Seria uma guinada histórica. Dos 108 pódios brasileiros nos Jogos até hoje, apenas 22 foram com mulheres.
Porém, desde que tiveram a primeira conquista, em Atlanta-1996, o feminino não mais zerou. Em Londres-2012, levaram seis medalhas, contra 11 dos homens, mas ganharam dois de três ouros.
Neste ciclo, elas evoluíram. Em 2014, foram sete medalhas em Mundiais ou equivalentes, contra cinco deles. Martine Grael e Kahena Kunze (vela), Duda Amorim (handebol) e Ana Marcela Cunha (maratona aquática) foram eleitas melhores do mundo.
Investimento, confiança, planejamento e sorte são os motivos citados para a evolução no cenário nacional.
"Viajo para lutar desde nova, isso deu confiança", disse Mayra Aguiar, 23, campeã mundial e bronze em 2012.As judocas tiveram mais pódios do que o sexo oposto nos últimos três Mundiais. A confederação brasileira investe cerca de R$ 3 milhões anuais na seleção feminina. Além de dinheiro, uma iniciativa apontada como determinante foi pôr no comando a técnica Rosicleia Campos.
"Mulher é difícil. Mas, passou uma coisa, ela faz. A Rose contribuiu para o sucesso", contou Érika Miranda, 28, ouro no Pan de Toronto.
Dividir os gêneros também ajudou Etiene Medeiros, 24, a se tornar a primeira brasileira campeã mundial na natação. "A confederação deixou as meninas com um técnico exclusivo. Crescemos.
""Os investimentos são mais equiparados aos dos homens", apontou Iris Tang Sing, 24, bronze no Mundial de taekwondo deste ano.
Para o gerente de performance esportiva do COB, Jorge Bichara, o boom feminino também tem razões externas. "Surgiram mais provas por política de equilíbrio do COI (Comitê Olímpico Internacional)", comentou o gerente. "Mas, se as mulheres forem nosso carro-chefe em 2016, ficarei muito feliz." (PAULO ROBERTO CONDE)