Máquinas falam entre si mesmas na indústria 4.0
Conceito que une automação, conectividade sem fio e equipamentos inteligentes começa a chegar ao Brasil
30%É a redução de custos propiciada pelas novidades na indústria, como impressão 3D, apenas na etapa de engenharia das empresas do país
Uma nova revolução industrial está em curso, em que toda a cadeia de produção é automatizada e digitalizada. Trata-se da indústria 4.0, cujo conceito surgiu em 2011, na Feira de Hannover, na Alemanha, como parte da estratégia de alta tecnologia do governo do país.
"Pode-se dizer de uma maneira básica que a indústria 4.0 é a união da automatização da indústria com a internet das coisas, em que os equipamentos 'conversam' entre si", diz o professor Almir Meira, coordenador dos cursos de Engenharia da Computação e Engenharia de Produção 2.0. da Fiap.
"É a conectividade sem fio junto com a inteligência do equipamento buscando a otimização dos serviços", afirma o professor.
Assim, o produto é inteiramente concebido em um software antes de se iniciar a produção física.
"Com a simulação do produto no mundo digital, ganha-se tempo e os custos caem, aumentando o retorno sobre o investimento", diz Renato Buselli, vice-presidente de Digital Factory da Siemens. Segundo ele, estima-se que a redução de custos apenas na etapa de engenharia possa chegar a 30%.
Uma vantagem da produção totalmente integrada é que é possível detectar e corrigir falhas durante a fabricação com muito mais rapidez, além de acompanhar a distribuição e a revenda até o cliente final.
"Com o uso de big data, é possível para a montadora definir com mais certeza qual carro é o potencial alvo de um recall, por exemplo", afirma.
Outra possibilidade surgida com as fábricas inteligentes é que a customização, em que o consumidor define os detalhes do produto, se tonou mais fácil e acessível, especialmente com o surgimento da impressora 3D.
O projeto indústria 4.0 do governo alemão busca a completa digitalização e interconexão dos processos de produção industrial, desde o controle de matérias-primas até a logística de distribuição dos produtos.
Além da Alemanha, a chamada quarta revolução industrial já está em curso em outros países desenvolvidos, como França, Itália, Inglaterra e Estados Unidos.
BRASIL
No Brasil, a indústria 4.0 começa a dar alguns passos, sendo que grande parte dos industriais brasileiros ainda nem chegaram à terceira revolução, em que a produção é automatizada. Mas algumas empresas do país, como Ambev, Volkswagen e Embraer, já entraram na nova era.
Antonio João Carmesini, diretor de Engenharia de Manufatura da Embraer, afirma que desde 2011 a fabricante de aviões trabalha com a virtualização da produção, desde o componente mais básico até a entrega da aeronave, antes de iniciar o processo de fabricação.
"Isso nos permite simular e antecipar processos para produzir com mais qualidade, rapidez, maior produtividade e redução de custos."
POLÍTICAS PÚBLICAS
Marcelo Prim, gerente executivo de Tecnologia e Inovação do Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), afirma que o nível de automação da indústria brasileira ainda é muito baixo, e a utilização do conceito 4.0 ainda é uma realidade distante. Até porque, pondera, mesmo na Alemanha, essa quarta revolução industrial está apenas no começo.
"É preciso que se criem linhas para modernização do maquinário industrial brasileiro, para que as fábricas possam se automatizar e adotar o conceito 4.0", diz Prim.
Ele destaca que há instituições, universidades e empresas, incluindo o Senai, estudando como desenvolver essa nova indústria no Brasil.
O Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação também criou um grupo de trabalho para desenvolver políticas públicas voltadas para a nova fase da indústria.
"A ideia é que o país também surfe nesta onda e se torne um exportador de tecnologias nesse novo conceito e não um mero importador", afirma Prim.
Ele explica também que, no Brasil, trabalha-se com um cenário de dez anos para que o país entre, de fato, na indústria 4.0. A crise econômica atual, no entanto, pode desacelerar os planos.
Meira, da Fiap, é mais otimista. Para ele, a crise pode até estimular indústrias a buscarem unir automação e internet, em busca da redução de custos de produção. "É em época de crises que se criam oportunidades, embora o custo inicial do investimento seja mais alto", diz.