Selfie privada
Com biometria, até autorretrato pode substituir senhas do cartão de crédito; Brics investirão 23% mais nesse setor de segurança até 2019
O grande número de dispositivos conectados à internet, como smartphones, tablets, TVs e até relógios, criou um ambiente propício para o roubo de dados –são muitos alvos e nem todos estão bem protegidos. Isso força empresas a procurar formas de proteção que vão além das senhas e de métodos tradicionais de autenticação.
Uma delas é a identificação biométrica, que utiliza as características físicas de cada pessoa. A impressão digital é a mais conhecida, mas os computadores já conseguem reconhecer a face, a íris, as veias dos olhos, o formato das orelhas, a geometria das mãos e a voz.
Além disso, há um segmento chamada de biometria comportamental, que identifica os hábitos de uma pessoa no computador, como a velocidade com que digita e a movimentação do mouse.
Segundo a consultoria Technavio, o investimento em biometria dos países dos Brics (bloco que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) deve crescer 23% até 2019.
"Há movimentação intensa de empresas privadas no uso de biometria para proteger negócios, notadamente nas áreas bancária, de saúde privada e de varejo", diz Célio Ribeiro, presidente da Abrid (Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia em Identificação Digital).
No Brasil, 90 mil caixas eletrônicos já contam com a tecnologia de sensores para a leitura de digitais, segundo a HDI Biometrics, empresa especializada no setor.
Outros 70 mil ainda precisam ser equipados.
Além de leitores digitais, o setor financeiro experimenta outras formas de identificação.
A MasterCard iniciou, nos EUA, um programa de testes em que uma selfie é usada para efetuar pagamentos. A ideia é que, ao fazer uma compra, tirar uma foto do próprio rosto com o celular baste para concluir a transação.
No varejo, empresas sugerem que as soluções poderiam ser usadas no momento de abertura de crediário, alvo comum de fraudes com documentos falsos.
A Certibio –braço recém-criado para negócios no setor da empresa de certificação digital Certisign– pretende oferecer um sistema que utiliza o banco de dados de órgãos oficiais para validar a identidade.
Para abrir um crediário, o cliente usaria a impressão digital e apresentaria um número de documento, como RG ou CPF. O sistema então cruzaria essas informações com registros feitos, por exemplo, no Detran.
A empresa diz ainda que há potencial para expandir o uso da tecnologia entre bancos, empresas de telecomunicações e seguradoras de saúde.
A previsão é de que a companhia feche os primeiros cinco a dez clientes ainda neste ano, criando casos de sucesso para ampliar sua participação no mercado.
DESCONFIANÇA
Apesar da expansão, a autenticação biométrica ainda gera desconfiança em parte dos usuários domésticos.
"Nenhuma tecnologia está livre de falhas, mas mesmo assim a biometria apresenta uma melhora expressiva nos níveis de fraudes que temos hoje", afirma Igor Rocha, diretor-executivo da Certibio.
Um temor recorrente é o de que empresas e governos tenham acesso aos dados.
"No Brasil, as pessoas já estão acostumadas a fornecer suas características biométricas em muitas situações: as impressões digitais quando solicitam carteira de identidade, CNH ou passaporte ou imagem da face para acessar um prédio comercial", diz ele.
O que precisa ser feito, de acordo com Rocha, é que as empresas dessa área desenvolvam soluções que garantam cada vez mais a inviolabilidade dos dados.