Entrevista Rubén Magnano
Precisamos recuperar os clubes para ampliar a base
TÉCNICO DA SELEÇÃO MASCULINA DE BASQUETE AFIRMA QUE TIME BRIGARÁ POR PÓDIO EM 2016 E LAMENTA FALTA DE MASSIFICAÇÃO
Mais do que como técnico, Rubén Magnano, 60, se define como um professor, o que de fato é. Graduado em educação física, ele desenvolveu uma reputação quase inabalável no mundo do basquete.
Há quase cinco anos, o argentino encarou a missão de resgatar o orgulho da seleção masculina do Brasil, outrora bicampeã mundial, e antes de sua gestão fora dos Jogos Olímpicos por 16 anos.
Com Magnano à frente, o Brasil voltou à Olimpíada --foi quinto nos Jogos de Londres-- e, neste ano, avançou às quartas do Mundial da Espanha. "Ficamos perto de lutar por medalhas", diz.
Apesar da boa maré, ele não abandona o lado professor. Daqueles que se indignam com um sistema falho.
Nesta entrevista, concedida em seminário de gestão esportiva, em Belo Horizonte, na última semana, ele critica a falta de clubes (a principal liga nacional, o NBB, tem 16 equipes) e de planejamento para massificar o basquete.
Folha - Passados quase três meses, qual é sua avaliação da participação no Mundial?
Rubén Magnano - Mais do que avaliação, vou falar de sensação. A que tive antes de perder o segundo jogo contra a Sérvia [nas quartas de final] foi de que estávamos perto de lutar por uma medalha. Acho que como nunca antes vi o time muito sólido. Ganhamos do segundo e do terceiro colocados [Sérvia e França] na fase de classificação. Esportivamente, o trabalho foi bom.
O Mundial aumenta sua expectativa em relação a uma boa posição olímpica?
Até 2012, nenhum jogador havia disputado uma partida olímpica. Agora, todos têm isso. Jogar em casa será uma vantagem se soubermos canalizar e não virar um efeito bumerangue, vir de encontro a nós. O apoio do público será interessante. Teremos bons atletas. Sei que é um trabalho difícil, mas a medalha olímpica não é impossível, não.
O Brasil não começou muito tarde o trabalho para pensar na Olimpíada de 2016?
Não dá para botar um atleta no forno e, quatro anos depois, tirar dele um atleta olímpico. Para se formar um atleta olímpico é necessário investimento de anos, num patamar de excelência. Para se aspirar a ter uma equipe forte para a Olimpíada, é preciso ter uma base grande de atletas para se escolher.
Geograficamente, o Brasil está longe de tudo. Não temos competições de nível mundial, sobretudo para os meninos de 15 a 20 anos. Em qualquer parte do mundo, equipes de base jogam de 40 a 50 vezes por ano. Aqui não. Também é preciso aumentar a quantidade de clubes.
Qual é a alternativa?
Temos que popularizar o basquete brasileiro, massificar. Nem todos os meninos podem ir para o Minas, o Pinheiros e o Paulistano. Precisamos do Minas, mas precisamos do clube pequeno também. Falo isso porque na Argentina é assim. Na Argentina, há 1.600 clubes. Sabe qual é o apelido da seleção argentina? A Alma. Isso se cristalizou desde o ouro em Atenas, em 2004, e segue assim, todos a chamam assim. Os jovens sonham em defender a Alma. Precisamos recuperar os clubes no Brasil, tem que dar um jeito nisso.
Como vê o êxodo de atletas como Lucas Bebê e Bruno Caboclo, jovens e já na NBA?
Hoje, o Brasil tem um nível de competição média. E, para evoluir, é preciso jogar contra equipes europeias, americanas. Mas esse êxodo só será importante se eles jogarem lá fora. Se vão para o exterior e não jogam, mas têm proposta para voltar ao Brasil e jogar, aí eu prefiro eles no Brasil.
Em 2015, haverá Pré-Olímpico e Pan: o que já está planejado?
Por enquanto, nada. Na quarta (26), terei uma reunião com o Comitê Olímpico [do Brasil] e com a Confederação [Brasileira de Basquete] para ver o que será do futuro.
Qual é sua vontade?
Ainda precisamos ver se a equipe, pelo Brasil ser sede, já está classificada para os Jogos do Rio. Se já estivermos classificados, teremos chance de experimentar jogadores novos. Afinal, a história não acaba em 2016. Há um trabalho a ser pensado no futuro.
Você pensa em continuar no Brasil depois de 2016?
Eu tenho contrato até 2016. Depois, não sei.