Nas cidades da Copa, apenas 45% das escolas têm quadras
POLÍTICA PÚBLICA
Censo em dez capitais mostra falta de profissionais
Escolas sem equipamento esportivo, educação física ignorada no currículo escolar e escassez de profissionais para promover atividades regulares à população.
Essa realidade é bastante comum em dez das principais capitais brasileiras, todas elas cidades-sedes na Copa.
É o que mostra censo a ser divulgado nesta quinta-feira (27), em São Paulo, pela ONG Atletas pelo Brasil, liderada pelo campeão mundial de futebol Raí e pela medalhista olímpica do vôlei Ana Moser.
Obtido com exclusividade pela Folha, o relatório --intitulado Cidades do Esporte-- analisou indicadores de 2013 fornecidos pelas prefeituras de São Paulo e Belo Horizonte (Sudeste); Curitiba e Porto Alegre (Sul); Salvador, Natal, Recife e Fortaleza (Nordeste); e Brasília e Cuiabá (Centro-Oeste), a partir de questionário com mais de cem tópicos.
Rio de Janeiro e Manaus, que também foram sedes da Copa, foram procuradas, mas não validaram os resultados.
SEM QUADRA
Nos municípios analisados, apenas 45% das escolas têm pátios, quadras ou ginásios, equipamentos fundamentais para uma iniciação na prática esportiva.
Só três das cidades indicaram que todos os alunos de sua rede de ensino têm aulas de educação física na grade. Pela lei federal, a disciplina deve constar obrigatoriamente no currículo escolar.
Em um país com mais de 200 milhões de habitantes, faltam profissionais em instituições públicas para orientar os aspirantes a atleta.
A maioria dessas grandes cidades tem um instrutor para cada 4.000 habitantes, muito aquém do patamar tido como ideal nos países desenvolvidos --um profissional para cada mil pessoas.
"O esporte não é visto nas maiores cidades do Brasil como tema relevante. O caminho é árduo", diz Daniela Castro, diretora executiva da Atletas pelo Brasil, que tem a Unesco e a Unicef entre os seus parceiros no programa.
Segundo ela, um dos municípios não tem sequer secretaria de esporte, apenas uma diretoria encarregada de tocar projetos. Por ora, não foram divulgadas informações específicas de cada cidade, apenas os dados gerais.
Um dos trechos da conclusão do relatório aborda a "dificuldade na obtenção de dados de diferentes secretarias, o que evidencia um problema de integração entre órgãos no tema do esporte."
O documento será entregue às cidades participantes para ajudar em melhorias. Ele também deve ser apresentado ao Ministério do Esporte.
Relatórios periódicos como esse serão publicados ao menos até 2022. "Vemos que a realização de um evento como a Copa do Mundo não influenciou a política pública de esporte", afirma Daniela.