Além da visão
Cego, brasileiro que já surfou com Kelly Slater vira xodó no Havaí e promove filme de sua carreira
É noite e o espaço reservado para a hora da merenda das crianças de uma escola na praia de Pipeline, no Havaí, onde acontece a última etapa do circuito mundial de surfe, está cheia de gente para acompanhar um filme sobre um surfista brasileiro.
Gabriel Medina? Mineirinho? Carlos Burle? Não.
Trata-se de Derek Rabelo, 22, um capixaba que nasceu cego e atualmente divulga o seu documentário, "Além da Visão", por diversas partes do mundo. O filme conta a sua história como surfista.
"O surfe me traz uma adrenalina constante e me faz sentir a vida. É uma sensação de perigo e prazer que só quem surfa sabe o que é", disse o capixaba à Folha.
Rabelo surfa sempre com alguém ao seu lado. Esse guia é o responsável por ajudá-lo a tomar a melhor direção do mar e a escolher as melhores ondas para manobrar.
Mesmo assim, o surfista diz ter uma percepção aguçada. Precisa o suficiente para saber quando e para que lado a onda está quebrando. Depois da orientação, ele consegue deslocar-se pelo mar.
"O surfe é minha profissão, eu vivo do surfe, é o esporte que eu amo e é tudo na minha vida", afirmou Rabelo, que já surfou ao lado do americano Kelly Slater, 11 vezes campeão do mundo, e do brasileiro Carlos Burle, especialista em ondas gigantes.
Hoje, além de surfar, Rabelo gosta de andar de skate. Nas andanças esportivas, já praticou tow-in, modalidade em que o surfista é rebocado por um jet-ski para pegar uma grande onda, e até saltou de paraquedas.
Rabelo entrega que seu pai, Ernesto, foi o grande incentivador e sempre sonhou em ter um filho surfista.
"Minha família é fundamental para mim. Eles sempre me apoiaram no esporte", contou o surfista.
Seu nome de batismo, aliás, é homenagem a Derek Ho, 50, primeiro surfista havaiano a conquistar o título mundial, em 1993. No Havaí, o brasileiro é "pop". Vira e mexe, acaba reconhecido nas praias pelos demais surfistas.
Enquanto se prepara para cair no mar, é "hi, Derek" para cá e outro "hi, Derek" para lá. Não é difícil encontrá-lo pelas ruas de Pipeline.
HONRA
Esta é a quarta vez que o capixaba se aventura na praia de Pipeline, que é considerada a "meca" do esporte e tem, por tradição, as ondas mais assustadoras do planeta.
"Com Derek, aprendemos que devemos fazer mais e reclamar menos. Onde quer que vá, ele será respeitado pela coragem que tem", disse a estudante Kelly Wishner, 22.
O tratamento especial faz o capixaba se sentir em seu lar. Foi exatamente no Havaí que Rabelo realizou a sua primeira viagem para surfar.
"Eu amo o Havaí. Exibir o meu filme aqui, de frente para a praia de Pipeline, foi uma honra. Aqui eu estou em casa", afirmou.