Reabertura total do Engenhão fica para julho
Obras Estádio no Rio recebe 1º jogo desde março de 2013, mas sem público; reforma da cobertura ainda gera polêmica
Sob uma "guerra de laudos", o estádio Engenhão, que será usado para provas de atletismo na Rio-2016, recebe neste sábado (24) a primeira partida desde março de 2013. Empreiteiras discutem na Justiça a necessidade do reforço da estrutura da cobertura, que provocou sua interdição por quase dois anos.
Além da discussão, a obra sofreu atrasos. A reabertura total, prevista para novembro passado, só ocorrerá em julho.
O Botafogo disputa hoje amistoso contra o Shandong Luneng (CHN) com portões fechados. O estádio reabre ao público no dia 7, para 20 mil torcedores. A partir de abril assentos serão liberados paulatinamente até atingir a capacidade máxima, 45 mil lugares, em julho. A briga nos tribunais, contudo, tende a se arrastar por alguns anos.
O Consórcio RDR (Racional/Delta/Recoma), responsável pelo projeto da cobertura, questiona na Justiça diversos pontos do laudo da empresa alemã SPB, que baseou a decisão da prefeitura de fechar o estádio.
A Racional, líder do grupo, apresentou laudos de três empresas (duas nacionais e uma britânica) para tentar provar que os cálculos feitos pela empresa alemã estão errados.
VENTOS
De acordo com a empreiteira, a SPB utilizou normas europeias para fazer o ensaio em túnel de vento, enquanto o correto seria ter como base as regras nacionais e americanas, sob as quais o projeto foi feito. Segundo os laudos, em vez de 63 km/h, como aponta a empresa alemã, a cobertura pode suportar ventos de 126 km/h.
"Não se consegue entender a motivação que conduziu um grupo de empresas de tão grande porte a causar tamanho estardalhaço e induzir a erro toda população ao insinuar que o estádio estava instável", diz a empreiteira.
A "guerra de laudos" ocorre no processo movido pelo Consórcio Engenhão (Odebrecht/OAS), responsável pelo fim da construção do estádio em 2007, contra o Consórcio RDR, que iniciou a obra em 2003, mas a abandonou por não poder entregá-la até o Pan-Americano de 2007.
O Engenhão custou R$ 380 milhões após atrasos e aumentos de preço --a previsão inicial era de R$ 60 milhões.
O Consórcio Engenhão assumiu os custos do reparo, cujos valores não foram divulgados. Mas tenta o ressarcimento na Justiça.
De acordo com o Consórcio Engenhão, houve erro no projeto contratado pelo Consórcio RDR. Ele usa como base laudo da SPB, corroborado por uma comissão formada pela prefeitura.
Uma das evidências apontadas como prova da falha de cálculo foi o deslocamento maior do que o esperado dos arcos leste e oeste, que sustentam a cobertura. Eles se moveram 50% a mais do que o esperado após a retirada das escoras que sustentavam o teto durante a obra.
Os laudos da Racional dizem que o deslocamento maior ocorreu porque o Consórcio Engenhão fez a montagem dos arcos de forma diferente do indicado no projeto. Ainda assim, afirma não haver risco de desabamento.
Procurado, o Consórcio Engenhão não quis se manifestar. O secretário municipal Pedro Paulo (Coordenação de Governo) disse que as descobertas feitas durante a obra "apontam que o diagnóstico da prefeitura estava certo".
Ele atribuiu o atraso na reabertura total ao "desafio enorme" para recuperar a segurança da cobertura.