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Time de hóquei sofre prejuízo ao apoiar causa gay na Suécia
Região ideal para observar fenômenos naturais como a aurora boreal e o sol da meia-noite, a cidade de Kiruna, ao norte da Suécia, tornou-se adequada para apreciar um outro tipo de fenômeno.
As cores do arco-íris agora vestem os jogadores do clube de hóquei Kiruna IF. O novo uniforme é parte de um projeto iniciado pelo time para sinalizar que a comunidade LGBT (sigla de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros) é bem-vinda ao esporte. A camiseta já foi vendida para outros países nórdicos, além de EUA, Índia e Bangladesh.
A mudança, porém, não ficou só no visual. O clube educou jogadores e funcionários sobre questões LGBT e passou a participar de eventos para contribuir para maior conscientização coletiva.
É a primeira associação esportiva da Suécia a iniciar o processo de certificação da RFSL (associação nacional para os direitos de homossexuais, bissexuais e transexuais). O certificado atesta que a associação trabalha para oferecer bom ambiente de trabalho e tratamento respeitoso às pessoas a partir da perspectiva LGBT.
A iniciativa do clube ganhou destaque na mídia, mas nem todas as reações foram positivas. Alguns patrocinadores abandonaram o time, o que gerou um prejuízo de 1,5 milhão de coroas suecas (cerca de R$ 4,7 milhões).
O presidente do Kiruna IF, Johan Köhler, explica que alguns patrocinadores, como os da indústria de mineração, podem estar enfrentando dificuldades financeiras, mas outros não apoiam a ideia de associação à causa LGBT.
"Se todos pensassem que é obviamente assim que deve ser, não precisaríamos estar fazendo isso", explica.
Ele conta que Kiruna é uma cidade pequena, que tem na mineração a principal atividade econômica --é sede da maior mina de ferro do mundo-- e sofre com uma mentalidade retrógrada no que diz respeito à igualdade de gênero e à diversidade sexual.
Além disso, acrescenta que o hóquei é um esporte marcado pelo machismo.
Jogador do Kiruna IF, Viktor Esseryd, que também trabalha como minerador na cidade, espera que atletas sintam-se apoiados pela iniciativa: "Atletas saem do armário muitas vezes após concluírem suas carreiras, porque isso pode acabar com elas. Nós queremos apoiá-los".
À parte a perda significativa de patrocínio, o clube teve também boas surpresas.
Com a fuga dos investidores, diversas novas parcerias surgiram --até doações individuais foram feitas. O suporte financeiro é bem-vindo, já que o apoio à causa LGBT exigiu grande investimento. Um exemplo foram as 100 mil coroas suecas (cerca de R$ 314 mil) para viajar a Estocolmo e participar da Parada LGBT.