Com centenários, cadastro deixa eleição vulnerável
De acordo com dados do IBGE, o Brasil tem cerca de 30 mil cidadãos com mais de 100 anos. Eles representam 0,01% dos quase 204 milhões da população brasileira.
No Corinthians, esse percentual é bem diferente --ao menos, considerando os dados oficiais. O clube tem 11.600 sócios aptos para votar, dos quais 686 já passaram dos cem anos.
O cadastro dos associados, obtido pela Folha a partir de dados fornecidos pelo clube às chapas registradas para a eleição que vai acontecer neste sábado (7), mostra que, teoricamente, 2,3% dos sócios têm mais de cem anos, percentual muito superior à da população do país.
De acordo com essa lista, 117 sócios estão com mais de 110 anos e são mais velhos que o próprio Corinthians, que completará 105 anos no dia 1º de setembro de 2015.
Os três associados mais idosos estariam com 115 anos.
Ou seja, é muito provável que o cadastro do clube esteja desatualizado, o que torna o sistema eleitoral mais vulnerável a irregularidades.
A Comissão Eleitoral do Corinthians confirma que a lista de votantes pode conter erros, mas promete fiscalizar o pleito do próximo sábado da melhor maneira possível.
"A gente imagina que quase todos esses sócios não estão mais vivos ou não vão votar. Tenho como prometer que as carteirinhas dessas pessoas não serão usadas? Não tenho. Mas vamos fazer uma fiscalização severa para que não aconteça", reconhece Guilherme Strenger, vice-presidente do Conselho Deliberativo e membro da comissão que coordena o pleito.
A diretoria executiva do clube (o atual presidente é Mario Gobbi, e seu candidato à sucessão é Roberto de Andrade) não tem relação direta com a organização da eleição. Responsável pela votação, o Conselho Deliberativo é tido como órgão independente.
VIVO OU NÃO
Para participar da escolha do próximo presidente do Corinthians, é preciso estar filiado ao clube há pelo menos cinco anos e com as mensalidades em dia.
Strenger afirma que o problema da lista de sócios aptos a votar na eleição para a presidência do clube é que não há como verificar quem está vivo ou não.
"A família teria de informar e isso quase nunca acontece", disse.
O argumento da oposição, cujo candidato é Antônio Roque Citadini, é que o conselho deveria ter realizado um recadastramento para evitar suspeitas de fraude.
Com o novo estatuto, aprovado em 2008, o clube foi obrigado a recadastrar os associados remidos (filiados desde 1957), convocando todos a atualizar as informações. Quem não participasse seria excluído do quadro social corintiano.
O número expressivo de sócios centenários mostra que esse processo não funcionou adequadamente.
"A fiscalização na eleição do Corinthians é igual à fiscalização do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) na eleição para presidente da República", afirma Nei Nujud, que faz parte da comissão eleitoral, para garantir a confiabilidade do pleito corintiano. (AS)