Fábio Seixas
Sol poente
Dificuldades da Honda nas últimas empreitadas na F-1 renegam passado e levantam dúvidas
A primeira passagem da Honda pela F-1 despertou curiosidade e simpatia. Eram os anos 60, tempos românticos, o mais puro automobilismo-aventura.
O carro era lindo. Um charutinho todo branco, candidez só quebrada pelo círculo vermelho do Sol Nascente à frente do cockpit.
Quem eram eles? O que aquela gente de olhos puxados estava fazendo ali, em circuitos no meio da Europa e em confins da América? O que queriam?
Aprender, basicamente. E começar a mostrar ao mundo que também tinham algumas coisas a ensinar.
Foi tudo muito rápido.
A estreia foi em 1964. Em 1965, depois de apenas dez corridas na F-1, a primeira vitória. O frisson foi tamanho que valeu uma referência em "Grand Prix", de 1966, o melhor filme de automobilismo de todos os tempos --era o time Yamura Motors. Em 1967, a segunda vitória. Em 1968, o adeus à categoria após a trágica morte de um de seus pilotos, Schlesser.
Deixou saudades. E um rastro de afeto.
O retorno veio no início dos 80, como fornecedora de motor. A F-1 engatinhava na profissionalização, era o início da gestão Ecclestone.
Foi a vez de a Honda chegar, impor seu jeito de trabalhar, mostrar sofisticação e alta tecnologia, tomar a categoria de assalto. Detonou sentimentos de admiração. Espanto. Medo.
Com Williams e McLaren, foram seis Mundiais de Construtores e cinco de Pilotos consecutivos. De 1986 a 1991, foram 112 GPs. Motores Honda venceram 64, ou 57%. Foram 70 poles (65,5%) e 51 melhores voltas (45,5%).
De quebra, a marca colou em Senna, talvez o mais perfeccionista piloto de todos os tempos. Quando saiu da F-1, no fim de 1992, deixou um rastro de admiração.
A terceira investida da montadora na F-1 veio na virada do século, fornecendo motores para BAR e Jordan. Em 2004, comprou a primeira, batizando o carro a partir de 2006.
Já era uma F-1 insípida, dominada por megacorporações, com regulamentos restritivos e carros pasteurizados.
Foi um fiasco. Com direito a uma crueldade do destino. Fartos de dar murro em ponta de faca, os japoneses saíram de cena em 2008. Deixaram pronto um carro para o ano seguinte: revolucionário e campeão, mas ostentando o nome Brawn GP.
Mais: sua equipe satélite, a Super Aguri, durou só 39 GPs.
A Honda deixou dúvidas no ar.
Dúvidas que se acentuam agora, início de sua quarta empreitada na categoria.
Empurrando a McLaren, as unidades de potência japonesas acumulam problemas. O time inglês é o que menos andou na pré-temporada, o desenvolvimento está atrasado, as perspectivas ficam piores a cada treino.
Será que o estilo e a filosofia da Honda, tão triunfantes em eras mais modestas, não se encaixam mais no ambiente da F-1?
É uma enorme dúvida que tenho hoje.