Resultados ruins e problemas de saúde levam à saída de Muricy
SÃO PAULO
Treinador encerra sua terceira passagem pelo clube; Abel é o favorito para função
Técnico mais vitorioso do São Paulo nos últimos 20 anos, Muricy Ramalho, 59, encerrou sua terceira passagem no comando da equipe do Morumbi acumulando problemas de saúde e, especialmente, resultados decepcionantes.
A decisão de mudar o treinador, no cargo desde setembro de 2013, foi anunciada na segunda (6), um dia após derrota por 2 a 0 para o Botafogo e na semana que abre a fase final do Paulista.
De acordo com o vice de futebol, Ataíde Gil Guerreiro, a decisão foi tomada de comum acordo e não está ligada aos últimos resultados do São Paulo. Visa apenas proteger a saúde do treinador.
"Sentíamos uma instabilidade nele no domínio do time no gramado porque ele estava debilitado. Ele não sabia se deveria atender o clube ou a família e estava em uma grande insegurança", disse o dirigente, que constantemente saía em defesa do técnico ante qualquer crítica.
Muricy, por sua vez, disse que decidiu deixar o clube porque precisa de tempo para cuidar da saúde e anunciou que passará por uma cirurgia na próxima semana.
O treinador irá se submeter a uma operação de retirada da vesícula. Além disso, ele passa por tratamento para diverticulite (inflamação no intestino grosso). No ano passado, chegou a ser internado em uma UTI devido a uma arritmia cardíaca.
A preocupação de Muricy com a saúde em meio à vida estressante de um técnico é antiga. Sete anos atrás, ele já dizia considerar ter uma carreira curta para não repetir o mesmo fim de Telê Santana, seu mentor no São Paulo, que foi obrigado a abandonar o futebol por conta de um um acidente vascular cerebral.
"Já trabalhei com técnicos que ficaram doentes. Quando perdemos um jogo, ficamos sozinho, pois a culpa sempre recai em nós. Pretendo parar rapidamente para não ficar doente como meus amigos", afirmou, em 2008.
Embora o dirigente Ataíde negue, evidentemente o mau desempenho do time em campo também pesou para a saída do técnico.
Aliás, não se pode dissociar o declínio técnico da equipe tricolor da saúde fragilizada do seu treinador.
Duas semanas atrás, o técnico reclamou a Ataíde de sua saúde. Na mesma semana, após derrota por 3 a 0 para o Palmeiras, Muricy colocou seu cargo à disposição.
Na ocasião, o dirigente lhe ofereceu uma licença para que passasse pela cirurgia e prometeu que o São Paulo esperaria o tempo necessário de recuperação. O técnico, no entanto, recusou a ideia.
Dez dias, uma vitória (Linense) e duas derrotas depois (San Lorenzo e Botafogo), conversou mais uma vez com Ataíde e com o presidente Carlos Miguel Aidar. Da reunião, saiu sua demissão.
"Não esperava que ele fosse sair agora. Mas acho que a decisão foi boa para todo mundo", disse Aidar, cuja relação com o treinador não era tão boa quanto a de Ataíde.
ABEL FAVORITO
Enquanto não define o substituto de Muricy, o São Paulo será comandado mais uma vez pelo auxiliar Milton Cruz. E, de cara, o interino terá decisões pela frente.
Na quarta-feira (8), enfrenta a Portuguesa com a missão de evitar ser o clube grande de pior campanha na primeira fase do Campeonato Paulista. O jogo único das quartas do Estadual acontece já no fim de semana, contra o Red Bull. E, no dia 15, há o confronto com o Danubio, no Uruguai, que pode complicar as chances da equipe de classificação para as oitavas de final na Libertadores.
Segundo o vice, o São Paulo buscará um novo treinador brasileiro que cause impacto. A reportagem apurou que Abel Braga, ex-Inter, é o nome favorito, já que Mano Menezes tem rejeição pela imagem ligada ao Corinthians.
"Sobre o estrangeiro que eu queria trazer no fim do ano [quando acabaria o contrato de Muricy], já conversamos e ele não poderá vir. Era um europeu de primeiro escalão", completou Ataíde. (BERNARDO ITRI, PAULO VINÍCIUS COELHO E RAFAEL REIS)