Entrevista - Felipe Nasr
Cada ponto para mim é como se fosse uma vitória
Piloto brasileiro da Sauber celebra bom início na F-1 antes de sua 4ª corrida na categoria, o GP do Bahrein
Nem o próprio Felipe Nasr esperava um início de carreira na F-1 tão consistente como o piloto da Sauber tem tido.
Após tornar-se o brasileiro com melhor resultado em sua estreia na categoria com a quinta colocação na abertura do Mundial, na Austrália, num tumultuado GP fora das pistas, Nasr continuou impressionando.
Apesar de um final de semana problemático na Malásia, completou a prova e, na China, no último final de semana, ficou em oitavo.
Mas o brasileiro de 22 anos quer mais. Apesar de conhecer a limitação de seu carro, sabe que esta é sua vitrine para ir para um time grande.
"Tenho me dedicado muito à F-1. Muito da minha energia, dos meus pensamentos e todo trabalho que coloco na Sauber é porque eu quero atingir estes resultados. Cada ponto para mim é como uma vitória", afirmou Nasr, em Sakhir, onde neste domingo (dia 19), às 12h (de Brasília), será realizado o GP do Bahrein. O brasileiro vai largar na 12ª colocação.
-
Folha - Este início na F-1 superou as suas expectativas?
Felipe Nasr - Não vou mentir. Sim, desde que assinei com a Sauber, estava esperando muito mais dificuldade em atingir resultados.
Eles estavam esperando um ano mais difícil, o carro tinha muitas limitações e não sabíamos quanto o motor da Ferrari iria melhorar, então tem sido uma surpresa.
Mas desde o primeiro momento que guiei o carro senti que ele tinha potencial, o que se comprovou. Os resultados que conseguimos são fruto de muito esforço. Eu também me dediquei muito para agarrar estas oportunidades.
Falando da F-1, de maneira geral, é o que você esperava?
Tudo tem uma dimensão muito maior. A quantidade de trabalho, atenção, mídia, glamour, tudo cresce.
A F-1 é um lugar delicado, as pessoas olham muito os seus resultados. Cada passagem sua pela pista é uma vitrine para te analisarem.
Tenho tido um começo muito bom em todos os sentidos: completar as três corridas, ganhar experiência...
Você chegou a ter medo de não correr neste ano por causa do imbróglio judicial entre a Sauber e o Giedo van der Garde [piloto holandês que reivindicava uma vaga na equipe]?
Sim, tive medo. Era um risco que a equipe inteira, não só eu, todo mundo corria. Tinha a possibilidade de a gente não ter corrido naquele final de semana [na Austrália].
Para falar a verdade, o medo estava ali, mas não cheguei a pensar nesta possibilidade. Que bom que tudo se resolveu, se encaixou.
Olhando para trás agora, é difícil acreditar que a gente passou por tanta dificuldade. Problemas internos, políticos. No fim, tudo deu certo.
Quando ficou sabendo da história toda e do risco?
Saí da Inglaterra no sábado, cheguei à Austrália no domingo. Foi quando estava indo pegar o voo para a Austrália que fiquei sabendo da notícia e que teria que estar no julgamento na segunda-feira. Foi tudo novo e veio a sensação de que não sabia mais o que ia acontecer.
Acha que isso te fortaleceu?
Sem dúvida. Indo para minha primeira prova, numa pista que eu não conhecia, no meu primeiro final de semana na F-1 e passando por todo esse problema.
Foi só mais um obstáculo na minha carreira. Me deixou mais forte, mais consciente das coisas da F-1. Foi um grande exercício para me manter equilibrado.
O trabalho de bastidores na F-1 é tão importante quanto na pista?
É super importante. Saber se comunicar nos bastidores, saber passar uma visão é vital. É fácil olhar um resultado e não saber porque aconteceu aquilo. É preciso entender os fatos.
Quando sonhava em chegar à F-1, tinha algum time específico que queria guiar?
Claro que a gente sempre sonha em guiar pelas grandes equipes, mas sempre quis ser um piloto. Tenho objetivos aqui, tenho sonhos e você precisa estar numa equipe de ponta para conseguir.
E o esporte de maneira geral?
Não sou fanático. Acompanho desde a época que era pequeno. Mas sou um cara que quer aprender coisas também fora da F-1 porque não dá para ser piloto a vida inteira.
Um dia a gente vai ter que parar para fazer outra coisa.
E o que seria isso?
Longe das corridas eu nunca vou estar. Pelo fato de a minha família ter uma equipe no Brasil, quero em algum momento ajudá-los, mas ao mesmo tempo quero gerenciar alguma coisa, até mesmo começar uma empresa.
Mas isso é para o futuro. Sei que o tempo como piloto é limitado.
Ao mesmo tempo que me dedico muito à F-1, sei que não é para sempre. Me interesso em ler outras coisas, entender o mundo. Acho que tudo ajuda a ter um equilíbrio.