Surfistas brasileiros criam 'família' com Whatsapp, piadas, pôquer e churrasco
Grupo de sete competidores, a maioria surfando juntos desde criança, passa um ano junto e dá quase três voltas ao mundo
Eles passam quase um ano inteiro juntos, viajam por quatro continentes e se dividem entre treino e competição: essa é a vida dos sete brasileiros no Mundial de surfe.
O campeonato não dá tempo para descanso. Depois do Rio, viajam para Fiji, que sedia a quinta etapa. A volta para casa? Não há data.
Em um ano, os surfistas dão quase três voltas ao mundo. São 102 mil quilômetros.
Com tempo curto fora do mar, eles criaram um laço entre si. Formaram uma espécie de família. O contato entre eles é contínuo no circuito. Não é para menos, já que praticamente todos surfavam juntos quando crianças.
Para facilitar a comunicação, criaram um grupo no WhatsApp com os sete surfistas, que, geralmente, não ficam na mesma casa ou hotel. É comum cada um se hospedar na casa do patrocinador.
É pelo WhatsApp que eles conversam sobre o torneio, os adversários, compartilham fotos, se distraem e inventam até apelidos um para o outro.
Wiggolly Dantas virou Guigui. Adriano de Souza, o Mineirinho, é Capitão Nascimento, em alusão ao personagem de Wagner Moura no filme Tropa de Elite. A alcunha se deve ao fato de Mineirinho ser tido como o mais focado e guerreiro do grupo.
Os surfistas também costumam sair juntos para jantar e fazem churrasco quando podem, principalmente quando alguém ganha uma etapa.
A saudade da comida brasileira está sempre presente.
Na primeira etapa do Mundial, em Gold Coast, Austrália, a mãe de Gabriel Medina, Simone, viajou com o filho para a cerimônia de premiação do título de 2014. E matou a vontade de feijão da turma.
"Simone fez feijão na Austrália, e o Gabriel levou na casa de todo mundo. Nós somos muito unidos. É realmente uma família", disse Wiggolly.
E foi justamente por causa de comida que Mineirinho quase ganhou a fama de "caloteiro" no grupo. Após ganhar uma etapa no circuito, prometeu um jantar aos amigos. Demorou, mas pagou. "A gente ameaçou ir à TV para falar que ele era mão de vaca", diz Wiggolly, aos risos.
Jadson André é eleito pelo grupo como o mais engraçado de todos. "Ele é o comandante [das brincadeiras]", entrega Mineirinho. "Tem um astral diferente, contagia a todos", afirma Miguel Pupo.
Natural de Alexandria (RN), Jadson, que está em seu quinto Mundial, admite ser bem extrovertido. "Eu sou assim mesmo. A minha família é toda assim, sempre felizes e brincalhões. O meu jeito natural de ser deve ser engraçado para eles", afirma Jadson.
O potiguar é um amante do pôquer. Joga com amigos no circuito ou até mesmo online. Medina é outro que tem o pôquer como um passatempo, além do videogame, que carrega para todos os lados.
DISCIPLINADOS
Apesar da descontração, todos têm uma cartilha rígida. Os papos no WhatsApp, por exemplo, não vão até tarde. As chamadas para as competições são feitas bem cedo, entre 6h30 e 7h30.
"A gente sabe a hora de zoar. Chega uma hora que ninguém mais conversa na internet", diz Jadson, que, como os outros, dorme antes das 22h e acorda geralmente às 5h, nem se for para treinar.
Mineirinho também costuma aproveitar os dias livres para cair no mar e se preparar. "Uso esses dias para treinar ou testar uma prancha nova ou para aprimorar as minhas técnicas", diz.