Corrupção no futebol
'Fifa não é um monstro', afirma Blatter
Suíço recebeu 133 votos contra 73 de príncipe jordaniano; eleição foi ao segundo turno, mas concorrente desistiu
Desgastado diante do maior escândalo da história do futebol, o presidente da Fifa, Joseph Blatter, 79, foi reeleito nesta sexta-feira (29) para o seu quinto mandato à frente da entidade.
O pleito ocorreu dois dias após sete cartolas da Fifa, entre eles o ex-presidente da CBF José Maria Marin, serem presos em Zurique sob acusação de corrupção pelo Departamento de Justiça dos EUA em um esquema que ultrapassa US$ 150 milhões.
Blatter, por ora, não aparece entre os acusados.
"Eu vou trazer responsabilidade de volta à Fifa", afirmou o cartola suíço, em discurso após a vitória.
Ele recebeu 133 votos das 209 federações e viu o seu único rival, o príncipe da Jordânia Ali bin Al-Hussein, ser apoiado por 73 --três eleitores votaram nulo. A regra exigia um segundo turno, mas, sem força para ultrapassar Blatter, o adversário desistiu.
Essa foi a segunda vez que o suíço não vence em primeiro turno --também foi assim em 1998, quando ele foi eleito pela primeira vez à presidência da entidade. Blatter vai completar 21 anos no comando da entidade em 2019.
"Muitos dizem que estou aqui há muito tempo [é presidente há 17 anos]. O tempo é infinito. Posso achar meu tempo na Fifa curto", disse ele, que prometeu iniciativas para melhorar a imagem da entidade, mas não entrou em detalhes sobre elas.
"Não sou perfeito, ninguém é. Então, eu agradeço. Prometo a vocês que, no fim do meu mandato, deixarei a Fifa ao meu sucessor em uma posição muito forte", disse.
Mas a recondução do cartola ocorre sob desconfiança de dirigentes, especialmente dos europeus e de parte dos sul-americanos.
Sob a batuta do presidente da Uefa, Michel Platini, as federações europeias manifestaram apoio ao príncipe da Jordânia. Já alguns sul-americanos, irritados com a falta de apoio de Blatter aos cartolas presos, racharam.
A CBF ficou ao lado do suíço, mas parte dos vizinhos optou pelo príncipe.
'UMA GRANDE EMPRESA'
Num discurso no congresso pela manhã, antes da eleição, Blatter afirmou que, um dia, seu antecessor, o brasileiro João Havelange, classificou a entidade como um "monstro criado".
"A Fifa não é um monstro, mas uma grande empresa, se transformou numa empresa muito importante. Não é um clube", disse Blatter.
O dirigente ainda provocou os adversários. Afirmou que, provavelmente, o momento da entidade seria diferente se outros países tivessem levado a sede das Copas de 2018 e 2022, numa clara alusão a Inglaterra e EUA, que perderam respectivamente esses torneios para Rússia e Qatar.
Para o suíço, é preciso punir individualmente os culpados nos casos de corrupção. E a responsabilidade pela gestão da Fifa não pode ser só dele. "Gostaria de dividir a responsabilidade com vocês, isso é um governo. São 209 federações, não podemos supervisionar todo mundo."
Economista, Blatter é o oitavo presidente da história da Fifa. Foi eleito pela primeira vez em 1998.