Corrupção no futebol
Del Nero diz ser inocente e que não irá deixar a CBF
Ele se recusou, porém, a defender o seu antecessor, José Maria Marin
"É impossível renunciar. Isso não existe comigo. Até porque não há nenhuma razão para que eu venha a renunciar. Eu não tenho nada a ver com isso."
Foi assim, enfático, que o presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, respondeu sobre a possibilidade de deixar o comando da entidade.
Nesta sexta (29), em entrevista na sede da CBF, no Rio, ele comentou as investigações que já levaram à prisão seu antecessor, José Maria Marin, acusado de corrupção.
O esquema, que resultou na prisão de mais seis dirigentes ligados à Fifa na quarta (27) na Suíça, está sendo investigado pelo Justiça dos EUA, com o apoio do FBI, a polícia federal americana.
O presidente da CBF, contudo, evitou defender o antecessor, de quem era vice. Marin ocupou o cargo até abril deste ano e apoiou a eleição de Del Nero (leia mais no "Painel FC" na pág. B10).
O atual mandatário afirmou ainda que não sabia dos esquemas de corrupção levantados pelas investigações.
"É triste [a prisão de Marin]. Mas temos que tomar providências. Ficamos chateados, mas temos que exercer a função a favor da CBF. Eu não tinha conhecimento [do esquema]. Não assinei nenhum contrato na administração do Marin", disse.
"A função do vice é colaborar com o presidente, com aquilo que ele precisa. Vice-presidente não manda. Ele cumpre. Exatamente como um diretor. E eu procurava ser um bom diretor", afirmou
O dirigente desembarcou nesta sexta ao país após abandonar o congresso da Fifa, que termina neste sábado. Com a decisão, ele deixou de votar na eleição que deu mais quatro anos de mandato ao presidente, Joseph Blatter.
Segundo Del Nero, a decisão foi tomada com o intuito de dar satisfação ao Brasil.
"Resolvi partir da Suíça para poder, de forma positiva e correta, cumprir e dar as explicações necessárias, não só às autoridades, como para a imprensa", afirmou.
'COCONSPIRADOR 12'
Apesar de não ter seu nome citado no processo, Del Nero, como revelou a Folha na quinta (28), tem sua participação no esquema sugerida nas investigações.
As apurações indicam que ele teria dividido o recebimento de propina com Marin. A suspeita é que ele seja o "coconspirador 12", citado no relatório de investigação do FBI em conversa de Marin sobre recebimento de suborno.
De acordo com o relatório do FBI, o suspeito tem cargo de alto escalão na CBF e Conmebol (confederação sul-americana), além de ser membro do comitê executivo da Fifa --as qualificações se encaixam só em Del Nero.
"Eu não sou [o coconspirador 12] porque não recebi nada e nem receberia. Isso tem que perguntar para quem está investigando", afirmou.
Outro motivo que fez o dirigente voltar ao país mais cedo é a chance de instalação de CPI no Senado para investigar a CBF --Del Nero deve ser o principal alvo.