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O suiço que se deu bem
Enquanto seu conterrâneo Blatter sofre com escândalos no futebol, Wawrinka dá boa notícia ao seu país ao conquistar Roland Garros
Nos últimos dias, a Suíça testemunhou a queda da Fifa, entidade sediada em Zurique, na maior crise da sua história, com a prisão de sete cartolas.
Como se não bastasse, o presidente da Fifa, Joseph Blatter --nascido na pequena Visp, no norte da Suíça-- anunciou que deixará o cargo. Havia sido reeleito quatro dias antes.
Isso é o futebol. No tênis, as notícias foram melhores, bem melhores.
Nascido em Lausanne, uma das principais cidades suíças, ao sudoeste do país europeu, Stan Wawrinka avançou passo a passo no torneio francês até chegar à grande final.
Ao entrar na quadra Philippe Chatrier, viu mais de 14 mil cabeças que o encaravam. O tenista de 30 anos nunca estivera naquela situação, uma final de Roland Garros.
Sua condição de coadjuvante se ampliava devido ao desafio do outro lado da rede: o sérvio Novak Djokovic, 28, número 1 do ranking mundial, invicto há 28 partidas e faminto pelo título do Grand Slam francês, único que ainda não exibia no currículo.
Em que pese o primeiro set, no qual acabou controlado pelo favorito, Wawrinka surpreendeu a todos.
Após três horas e 12 minutos, triunfou por 3 sets a 1 (parciais de 4/6, 6/4, 6/3, 6/4).
O ponto decisivo, uma esquerda na paralela, reviveu jogada clássica de Gustavo Kuerten, que lhe entregou o troféu de campeão --Guga, aliás, foi homenageado pela organização do torneio pelos 15 anos de seu bicampeonato no saibro parisiense.
Wawrinka dedicou a taça ao seu técnico, o sueco Magnus Norman, justamente a quem Guga bateu em 2000.
"Eu ainda tenho dificuldade de assimilar que fui o campeão de Roland Garros", afirmou Wawrinka.
Mais do que o troféu, o suíço obteve a confirmação de que pertence à lista dos grandes tenistas desta geração, dominada por Djokovic, Roger Federer e Rafael Nadal.
Ele ostenta agora duas conquistas em Grand Slam --também levou o Aberto da Austrália em 2014--, um ouro olímpico nas duplas em Pequim-2008, ao lado de Federer, e um título da Copa Davis, obtido no ano passado.
"É meio estranho quando digo a mim mesmo que tenho todos esses títulos", brincou Wawrinka, que saiu 1,8 milhão de euros (R$ 6,2 milhões) mais rico de Paris e subirá de nono para quarto do ranking.
Derrotado e com seu sonho de glória em Roland Garros adiado, Djokovic se rendeu ao talento do adversário.
"Caí contra um jogador melhor, que foi corajoso e mereceu vencer", disse.
E a Suíça, que se constrangeu com Blatter e aliados, pôde vibrar com Wawrinka.