CPI quebra sigilos de Del Nero e empresário
CORRUPÇÃO NO FUTEBOL Por unanimidade, senadores aprovam acesso a informações bancárias e fiscais do cartola
Os senadores da CPI do Futebol quebraram nesta quinta (20) os sigilos bancário e fiscal do presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, e do empresário Wagner Abrahão, parceiro comercial da entidade.
A decisão confirma o cartola como o principal alvo da CPI e o deixa acuado também internamente –ele já se recusa a viajar ao exterior desde a prisão de José Maria Marin, seu antecessor, em maio, na Suíça, acusado de integrar esquema de corrupção envolvendo direitos de competições esportivas. Del Nero nega participação no esquema.
Em abril, a Folha revelou que Del Nero comprou de Abrahão por R$ 5,2 milhões uma cobertura dúplex de mais de 300 metros quadrados na Barra da Tijuca, zona nobre do Rio. Del Nero e Abrahão negam haver conflito ético na negociação.
O negócio foi fechado em fevereiro. No acordo, Del Nero e seu filho repassaram também ao empresário por cerca de R$ 410 mil e um saldo devedor (não revelado) uma outra cobertura no prédio. O imóvel valeria no mínimo cerca de R$ 4 milhões, de acordo com corretores.
Abrahão e a CBF são parceiros comerciais há mais de 20 anos. Ele é dono do Grupo Águia, que faz todas as viagens da seleção e dos clubes das Séries B, C e D do Brasileiro, entre outros negócios.
"A CPI pretende moralizar o futebol. Por isso, entendo que temos que começar olhando tudo que acontece na mais importante entidade do país e na mais corrupta", afirmou o senador Romário (PSB-RJ), autor do pedido.
O empresário também já foi investigado pela CPI do futebol em 2001. O relatório final da comissão mostrou que a CBF repassou R$ 31,1 milhões à SBTR, agência de Abrahão, entre 1998 e 2000. De acordo com os senadores da CPI, não havia notas fiscais referentes às passagens compradas com a agência.
Abrahão também foi beneficiário de um contrato da CBF com um dos patrocinadores da seleção. Em 2012, a Folha revelou que quatro empresas dele foram indicadas pela entidade para receber dinheiro de acordo com a TAM. Após a reportagem, a empresa rompeu o contrato.
A quebra dos sigilos de Del Nero e Abrahão foi aprovada por unanimidade em votação nominal. Pouco antes da votação, o relator Romero Juca (PMDB-RR) deixou a sessão alegando que teria que participar de outra reunião. Ele era contra a proposta.
Romário vai tentar aprovar nos próximos dias requerimento para ouvir os últimos presidentes da CBF, Ricardo Teixeira e Marin –este último continua preso na Suíça.