Após decepção em Mundial, judô liga alerta, mas mantém otimismo
Rio-2016 Carro-chefe na busca de medalhas, esporte precisa se levantar após queda inesperada
O judô brasileiro levou um golpe duro em Astana, no Cazaquistão. Caiu. Já ligou o sinal de alerta. Mas acredita que pode se levantar e cumprir o que dele se espera no Rio, daqui a 11 meses.
O esporte que mais deu medalhas ao Brasil em Olimpíadas (19) projeta, no mínimo, superar em 2016 os quatro pódios de Londres-2012.
No Mundial concluído há uma semana na capital cazaque, porém, os brasileiros "falharam" e "decepcionaram", na opinião de especialistas ouvidos pela Folha.
Érika Miranda (na categoria até 52 kg) e Victor Penalber (até 81 kg) conquistaram bronzes, as duas únicas medalhas do Brasil na competição mais importante do ano. Foi o pior desempenho em Mundiais desde Roterdã-2009, quando zerou.
Desempenho muito abaixo do esperado para quem o próprio COB (Comitê Olímpico do Brasil) considera ser um de seus carros-chefes rumo ao recorde de 27 a 30 medalhas e a décima colocação geral nos Jogos de 2016.
"É preocupante. Não é pontual, os resultados despencaram já em 2014. Está muito aquém do profissionalismo que o judô tem no país hoje", analisa Rogério Sampaio, campeão olímpico em Barcelona-1992.
Desde 2012, o Brasil é o segundo país que mais ganha medalhas, atrás apenas do Japão. Mas o desempenho caiu já no ano passado, incluindo Grand Prix e Grand Slam, como lembra Sampaio.
Segundo o gestor técnico de alto rendimento da CBJ (Confederação Brasileira de Judô), Ney Wilson, no Mundial era feita avaliação diária dos judocas e, agora, as discussões já são sobre as próximas competições. A meta era ter cinco pódios em Astana.
"Mundial é extremamente importante e, às vezes, mais difícil do que a Olimpíada, pois cada país pode ter até dois atletas por categoria [na Olimpíada, um]. O que aumenta a possibilidade de acidentes", diz Wilson.
Para ele, cada caso precisa ser avaliado individualmente, mas reclama do chaveamento do Mundial ("o ranking ainda está distorcido") e da arbitragem ("em alguns casos nos prejudicou").
O Brasil terá 14 atletas na disputa da Rio-2016, em todas as categorias masculinas e femininas. Em Londres, Sarah Menezes foi ouro; Rafael Silva, Mayra Aguiar e Felipe Kitadai, bronze. O país obtém ao menos um pódio olímpico desde Los Angeles-1984.
No entanto, neste momento, apenas Érika Miranda está entre as três primeiras de sua categoria no ranking mundial. Penalber é o melhor do masculino, em sexto.
Destaque entre os homens nas últimas competições, Rafael Silva, o Baby (acima de 100 kg), não foi a Astana pois se recupera de lesão.
Para o bicampeão mundial (2005 e 2007) João Derly, a situação é preocupante para a seleção masculina, principalmente em algumas categorias. De acordo com ele, atletas como Tiago Camilo, 33, e Luciano Corrêa, 32, estão em situação "confortável demais". Falta-lhes concorrência dentro do país.
Hoje deputado federal pelo PC do B-RS, Derly é relator da subcomissão especial que vai receber na próxima quinta (10), em Brasília, representantes da CBJ para discutir a preparação rumo ao Rio.
Técnico da seleção masculina, Luiz Shinohara discorda que alguns atletas podem estar acomodados.
Assim como o gestor da CBJ, o treinador concorda sobre a superioridade da equipe feminina. No masculino, apostam em promessas como Charles Chibana e Penalber, além da regularidade de Baby. No feminino, além de Érika, Maria Suelen Altheman e Mayra Aguiar são esperanças claras de medalhas no Rio.
"O trabalho está sendo bem feito. Com certeza lutando em casa vamos ter resultados melhores", diz Sarah Menezes, ouro em Londres.
Os dois melhores resultados brasileiros em Mundiais, por exemplo, foram nas edições do Rio: em 2007 (recorde de ouros, com três) e 2013 (melhor desempenho, seis medalhas com um ouro).
"O resultado não foi o esperado. Mas somos judocas. Estamos caindo e levantando sempre", diz Shinohara.
Enquanto não leva ippon, é com este ensinamento que o judô brasileiro vai lutar por medalhas nos tatames do Rio.