Instrumento afinado
Quando Pedro Iori, 13, tinha seis anos, os médicos disseram que ele tinha autismo. "Me falaram: 'Ele não vai falar, não vai saber quem é, nem quem são seus pais'", diz sua mãe, Maria José Oliveira, 47.
Há três anos ele começou a aprender a tocar clarinete no Projeto Guri e viu sua rotina mudar.
Pedro ficou mais calmo. Na escola, consegue ficar sentado na carteira, o que antes era difícil. E também se comunica melhor.
"Quando ele não consegue pedir algo, fala a frase cantando", conta a mãe. Ele até cantarola as músicas favoritas na frente do espelho. "Gosto de Queen e de Pink Floyd", diz Pedro.
Segundo a musicista e neurocientista Viviane Louro, a música ajuda todas as crianças. Mas, quando ela é autista, a mudança pode ser ainda maior.
"A música usa todas as regiões do cérebro e consegue remodelá-lo", explica.
Allan Domingues, 8, tem aulas de música no CEU São Rafael, na zona leste de São Paulo.
Desde que sofreu um acidente, há seis anos, ele não consegue pronunciar as palavras com clareza. Fazer amigos e brincar também ficou mais difícil; colegas de escola chegaram a bater nele.
Mas quando Allan começou a tocar xilofone e cantar no coral, quatro meses atrás, melhorou muito.
Na escola de música, ele fez novos amigos e passou a ser respeitado por suas diferenças. "Hoje ele conversa mais, a fala está melhorando", diz Suzana Domingues, mãe do menino.
Abraão Prado, 14, que tem síndrome de Down, também frequenta o polo São Rafael.
Há quatro anos ele faz aulas de coral e violão. E foi com a professora de música que ele aprendeu a escrever a letra "A", a primeira do seu nome.
"Até os médicos ficaram surpresos", conta a mãe dele, Maria Helena Prado.