Mulheres mostram o melhor do pop no festival Austin City Limits
Apesar dos nomes 'másculos', como Pearl Jam e Eminem, atrações femininas embalam multidões
Neozelandesa Lorde mostrou a força cada vez maior de seu show e St. Vincent só faltou quebrar sua guitarra
Se tem um recado que o megafestival Austin City Limits passou durante sua edição deste último final de semana, quase fechando o ano americano dos grandes eventos sonoros ao ar livre, é que na música pop, nestes tempos, quem manda é a mulher.
A despeito das grandes atrações do ACL 2014 terem sido os "másculos" Pearl Jam, Eminem, Outkast, Beck e Skrillex, os destaques vieram dos cabelos de Lorde, da boca de Lana Del Rey, do visual da St. Vincent, do sotaque indie-caipira de Jenny Lewis e até da bunda da rapper australiana Iggy Azalea, que aderiu ao "twerking", balançando os quadris junto com dançarinas.
A guitarrista e cantora St. Vincent, se não fez o melhor show, ganharia tal voto do roqueiro Kurt Cobain, se este estivesse vivo e na plateia do ACL. De cabelo roxo, salto alto, maquiagem carregada e um vestido que parecia ter saído da semana de moda de Paris, Anne Clark, a St. Vincent, se portou como verdadeira rock star.
Intercalava à perfeição sua voz delicada com poderosos riffs de guitarra, indo às vezes à barulheira de garagem e dando robustez ao vivo às canções de seus quatro discos, em especial às do excelente álbum homônimo, lançado em fevereiro deste ano.
Dançou como robô, tirou foto do público com uma mão enquanto fazia solo de guitarra, se atirou várias vezes ao chão, fez discurso sobre sexualidade, abraçou espectadores de quem tirou óculos, chapéu e lenço e os vestiu.
No final apoteótico, subiu na estrutura lateral do palco e lá em cima, pendurada, ficou balançando a cabeça enquanto sua banda tocava, embaixo. Sem amarrotar a roupa fashion. Só faltou quebrar a guitarra em pedaços.
Ainda com 17 anos e até um ano atrás apenas um nome indie esquisito para os americanos, a neozelandesa Lorde, tema na América de dois episódios recentes do popular desenho "South Park", arrastou um mar de gente no fim de tarde de domingo.
Desta vez com jeitão de artista consagrada, que só não fecharia o festival porque a produção não teria onde botar o Pearl Jam.
Mar de gente este formado por menininhas gritantes e com celulares no modo câmera e marmanjos que até dançavam seu som quase não-dançante e cantavam com ela em uníssono suas músicas novas e "velhas" (seu único disco foi lançado há um ano).
As apresentações ao vivo de Lorde estão ficando com uma força tremenda. Sua voz marcante, às vezes frágil e às vezes em contralto, combina cada vez mais com o tecladista e bateristas que a acompanham.
Com a dança quebrada e as jogadas para frente e para trás de seu cabelo encaracolado. Com sua música de certo modo original, porque não é exatamente pop, não é inteiramente indie, não pode ser catalogada como eletrônica e não tem uma guitarra sequer para ser colocada como rock.
É apenas Lorde. E tem sido bem bom assim.