Crítica - Drama
Sobriedade narrativa garante qualidades de típico filme de tribunal
Estrelado por Robert Downey Jr., 'O Juiz' expõe drama de personagem entre doença do pai e vida profissional
NO LONGA, UM MOVIMENTO DE CÂMERA SIMPLES E EFICIENTE TRADUZ A PASSAGEM DO PROTAGONISTA DA PREOCUPAÇÃO COM A CARREIRA DE ADVOGADO PARA A ENTREGA FAMILIAR
SÉRGIO ALPENDRE COLABORAÇÃO PARA A FOLHAEm certos filmes, existe algum momento específico, um efeito ou procedimento inesperado, que pode sintetizar a trama com perfeição.
Um movimento de câmera simples e eficiente concentra as principais linhas de força que percorrem "O Juiz", dirigido por David Dobkin ("Penetras Bons de Bico").
Hank Palmer (Robert Downey Jr.) está conversando com o médico sobre a saúde de seu pai (Robert Duvall), um juiz linha dura, tido como eticamente inabalável. Eles estão próximos de uma bela paisagem bucólica.
No momento em que o médico expõe a gravidade da doença, um câncer terminal, a câmera sai do enquadramento com Hank e o doutor.
Ela passa então para outro, mais escuro, que captura o juiz brincando com a neta dentro de uma cabana, enquanto Hank o observa do lado de fora, em primeiro plano.
Hank passa de uma situação, em que estava mais preocupado com sua carreira de advogado e sua reputação profissional, a outra, de entrega ao drama familiar.
O movimento de câmera traduz essa passagem estilisticamente. E com a passagem surge a necessidade de reconciliação entre esses dois universos conflitantes.
IDEAIS DE JUVENTUDE
Saído de um caso importante onde trabalha, em Chicago, para o funeral de sua mãe, em sua pequena cidade natal, Hank se vê obrigado a ficar mais uns dias quando seu pai se torna o principal suspeito de um crime.
Outra divisão óbvia, além daquela entre o familiar e o profissional, está entre seu presente como advogado de gente poderosa e seu passado interiorano, preso a ideais de juventude.
Paralelamente, existe a dualidade entre a mulher da qual pretende se divorciar e a antiga namorada do colégio (Vera Farmiga), que parece ficar mais bela com o passar do tempo.
Há outros problemas. Um deles é que a justiça e a verdade passam pela reputação do pai, que pode ser manchada também pela informação de que ele continuou trabalhando sob os efeitos colaterais da quimioterapia.
Outro, mais pessoal, é o acúmulo de culpas e mágoas entre Hank e o irmão mais velho, respingadas na relação com o pai, velho durão com dificuldades para extravasar seus sentimentos.
Daí nasce um drama de tribunal tipicamente americano temperado com o acerto de contas familiar.
Nada, contudo, que ameace a sobriedade narrativa alcançada por Dobkin.