38ª Mostra
Documentário propõe final feliz a conflito entre Israel e Palestina
'The Green Prince' narra relação entre espião israelense e filho de líder terrorista do Hamas
'Tive a sensação de que a esperança era um sentimento tangível', diz o diretor do longa, Nadav Schirman
O diretor Nadav Schirman arrepiou-se quando ouviu a história que transformaria no documentário "The Green Prince": um espião israelense que recruta o filho de um líder terrorista palestino para colaborar com o país rival.
"Tive essa sensação de que a esperança era um sentimento tangível", diz o israelense Schirman às vésperas da estreia de seu filme na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, nesta sexta (17).
A história havia sido narrada em 2010 na autobiografia "Son of Hamas", a partir da qual o diretor concluiu que, a despeito de todos os indícios contrários, era possível encontrar uma área pacífica entre dois inimigos. Filmar "The Green Prince" lhe pareceu ali um imperativo.
O documentário tem uma estrutura narrativa eficiente que inclui só dois personagens, definidos por valores opostos: honra e vergonha.
Honra para o espião israelense Gonen Yitzhak, que recrutou o jovem palestino Mosab Youssef. Para Mosab, porém, era a vergonha: filho de Hassan Youssef, um dos líderes da facção militante Hamas, traiu a própria família ao colaborar com Israel.
O documentário narra a história de ambos, desde seu primeiro encontro, durante os dez anos em que Mosab espionou a facção militante palestina Hamas e entregou informações estratégicas a Israel, sabotando os esforços do próprio pai.
Mas a própria natureza dos entrevistados, espiões calejados, exigiu do diretor algum molejo para extrair deles informações e reações necessárias para o seu filme.
Schirman usou o aparelho Interrotron em suas gravações. "Os entrevistados olham para uma tela com o meu rosto, atrás da qual está a lente da câmera", explica. Fica a impressão de que Mosab e Gonen falam com o espectador.
"Fizemos um acordo para eles me deixarem ir a fundo na história. Mais do que nos eventos, eu estava interessado no envolvimento deles."
Afinal, de histórias de espionagem o cinema está repleto. Em 2013, fizeram sucesso o israelense "Belém: Zona de Conflito" e o palestino "Omar", ambos sobre a colaboração entre palestinos e o serviço secreto israelense.
O trunfo de "The Green Prince" é, no entanto, destoar do gênero ao propôr um final feliz para a história.
"As pessoas precisam de alguma coisa que lhes dê otimismo", diz o diretor. "Gonen e Mosab eram inimigos e se tornaram amigos porque assumiram o risco de confiar um no outro. Os líderes políticos, porém, não arriscam nas negociações de paz."
O risco da dupla, ademais, era tangível. Ambos poderiam ter sido mortos, se lhes caísse a máscara. O clímax do filme está por aí, afinal.