Crítica
Sem medo dos erros em que acaba caindo, longa vai do musical ao "terrir"
Juliana Rojas e o grupo do qual faz parte, Filmes do Caixote (de filmes como "Trabalhar Cansa" e "O Que Se Move"), estão na ponta de lança de uma possível renovação do cinema paulista. Ainda não chegaram lá. Mas ao menos se arriscam, tentam coisas diferentes, não têm medo do ridículo.
"Sinfonia da Necrópole" é uma genealogia dos gêneros. Tem de tudo em seu filme: comédia de erros, comédia romântica, terror (logo substituído pelo "terrir"), musical e até policial.
Numa situação que reflete a própria situação imobiliária de São Paulo, Jaqueline (Luciana Paes, magnífica) é contratada para reorganizar a ocupação dos túmulos, com a ajuda de Deodato (Eduardo Gomes, também ótimo), um dos trabalhadores locais.
O filme é também uma história de amor fracassado. O amor de Deodato por Jaqueline. Ele, tímido e sensível, que desmaia quando vê mortos, vai trabalhar justamente como aprendiz de coveiro.
Ela é uma especialista em otimizar espaços para novos mortos. Anda de cemitério em cemitério com a fleuma de quem não erra, nem hesita em suas funções.
Alguns problemas são sensíveis: as canções são irregulares, a direção nem sempre dá conta do humor insólito que se anuncia, certos momentos parecem se prolongar sem muita justificativa (como a cena no karaokê).
Prejudica igualmente o modo como a parte musical invade a narrativa. Com a exceção do número com os zumbis, genial abertura ao mais patético e desvergonhado "terrir", as músicas surgem apenas como pausas forçadas, que raramente contribuem para a narrativa.
Por outro lado, o chefe do cemitério é um achado, com o sotaque espanhol e as tiradas inesperadas ("malditos góticos").
E o humor também está na maneira como são reproduzidas situações do ambiente policial, evidente na cena em que Jaqueline é apresentada e em várias com ela e/ou Deodato e o chefe.
Assim se vai mais uma chance de se fazer algo realmente contundente no cinema jovem brasileiro.
O caminho dessa turma, contudo, mostra-se ainda mais interessante, porque está cada vez mais aberto ao risco e ao inesperado.