Carlitos faz cem anos com filmes exibidos ao ar livre
Festival também traz documentário francês sobre vida de Charles Chaplin
Para a filha Geraldine, personagem centenário 'é um pouco como todos nós: na sarjeta, mas olhando as estrelas'
Faz cem anos que ele surgiu, já roubando a cena. Enquanto garotos disputam corrida num ancestral do kart moderno, um sujeitinho de chapéu-coco e bengala desfila com andar desajeitado em frente à câmera, atrapalhando a filmagem da competição.
O curta mudo "Corridas de Automóveis para Meninos" (1914) marca a aparição de Carlitos, personagem do inglês Charles Chaplin (1889-1977).
O centenário será comemorado pela Mostra de Cinema de São Paulo com a exibição ao ar livre desse curta e do longa "O Circo" (1928), no parque Ibirapuera no dia 1º. Nesta terça (21) o festival também projeta o documentário "Charles Chaplin: A Lenda do Século", feito para a TV francesa.
"O Carlitos ainda é e sempre será um herói", diz à Folha a atriz Geraldine Chaplin, 70, filha do comediante. "Ele podia rir e chutar o traseiro das autoridades, que é o que todos gostaríamos de fazer."
Último filme mudo da carreira de Chaplin, "O Circo" foi também o primeiro a lhe valer um Oscar. Nele, Carlitos encontra trabalho no picadeiro e se apaixona pela filha acrobata do dono do lugar.
"As pessoas falam muito que há um senso de dignidade no personagem. Para mim, é mais um vagabundo com desejo de ser um pequeno burguês. Um pouco como todos nós: na sarjeta, mas olhando as estrelas", diz Geraldine.
"Corridas...", diz a americana, "é um verdadeiro documento histórico". "Se você prestar bem atenção ao público que tenta assistir à corrida enquanto meu pai rouba os holofotes, vai ver que estão até com vergonha, mas já notam que ele é um entertainer'."
Ela diz, contudo, que prefere o Carlitos de "O Vagabundo", de 1915. "Foi quando ele botou emoção: se apaixona por uma garota e tem um final clássico, caminhando para o horizonte, meio triste, mas com um pouco de esperança."
Quando Geraldine, estrela dos filmes "Doutor Jivago" (1965) e "Cría Cuervos" (1976), entrou para o cinema, diz que não recebeu "críticas construtivas" de Chaplin. "Nem dicas. Ele simplesmente vestiu a carapuça de pai. Dizia que eu era sempre a melhor parte dos meus filmes."