A nº 1 da América
Meghan Trainor lidera há 6 semanas parada dos EUA com hit sobre corpo fora do padrão
Foi-se o tempo em que os modelos de beleza femininos na música eram mulheres magras e altas. Garotas que não se enquadram nesse estereótipo vêm conquistando seu espaço e vivem agora um bom momento no pop.
Há seis semanas, um hit nada convencional domina o Top 100 da "Billboard", a lista de músicas mais tocadas nos Estados Unidos: "All About That Bass", escrita e cantada pela novata americana Meghan Trainor, uma música com inspiração nos anos 1960 que fala sobre amar o seu corpo como ele é.
"Eu sempre estive acima do peso, até hoje sofro com isso, mas minha mãe me falava para não ligar tanto. Queria passar essa mensagem para outras como eu", diz Trainor, de 1,57 m e 80 kg, em entrevista à Folha.
Nascida em Massachusetts, a garota de 20 anos compõe suas próprias músicas desde os 11 e se mudou no ano passado para Nashville, uma das mecas da música americana. Foi lá que conheceu o produtor Kevin Kadish, que teve a ideia para a música.
"Trabalhamos nela juntos e gostamos do resultado, mas achávamos que nunca ganharíamos um centavo", lembra Trainor. Poucos meses depois, ela assinou contrato com a Epic Records, subsidiária da Sony Music.
MOVIMENTO
Apesar de não se considerar feminista, Trainor sem querer virou líder de um movimento de garotas que não se enquadram nos atuais padrões de beleza.
E não estamos falando de um movimento iniciado por Adele, 26 (1,75 m; 90 kg), que, embora tenha preparado terreno com declarações sobre aceitação do corpo, nunca cantou explicitamente sobre.
Garotas como Trainor e a rapper australiana Iggy Azalea, 24, se orgulham em ostentar um tipo físico antes associado às comunidades latino e negra, como Jennifer Lopez e Beyoncé, e cantam sobre quilos a mais e suas curvas.
Entra ainda nessa lista Mary Lambert, 25, que canta no hit "Secrets" sobre estar acima do peso: "Eles nos ensinam desde novas/ A esconder o que não gostamos em nós/ Sei que não sou a única que tentou por tanto tempo/ Ser outra pessoa/ Cansei disso/ Não ligo se o mundo souber quais são os meus segredos".
Isso sem falar na quantidade de músicas e videoclipes recentes que falam sobre ou exibem traseiros avantajados, como "Anaconda" ("minha anaconda' não quer nada a menos que você tenha bunda"), de Nicki Minaj, "Booty" ("você tem um bundão"), de Jennifer Lopez e Iggy Azalea, e "Wiggle" ("você sabe o que fazer com essa bunda grande? Rebole, rebole, rebole"), de Jason Derulo, com participação do rapper Snoop Dogg.
Como tudo o que acontece na música hoje em dia, o sucesso de Meghan Trainor não veio, porém, sem polêmica. Há quem diga que a mensagem da música não é positiva, já que critica as mulheres magras chamando-as de "vacas magrelas", "varetas" e "Barbies siliconadas".
No videoclipe, há até uma cena em que uma mulher magra e alta é maltratada por uma dançarina corpulenta. Mas Trainor garante que não há nada negativo. "Algumas meninas ficaram bravas comigo porque são magras, então eu devo odiá-las, mas não é isso", despista a cantora.
ORIGENS NO HIP-HOP
Não é de hoje que a música fala sobre mulheres com corpos "reais" e bundas grandes. Desde os anos 1970, grupos como Parliament e Funkadelic e até o Queen cantavam sobre garotas de traseiros avantajados.
Claro que durante os anos 1980 e 1990, a preferência acabou relegada às comunidades negra e latina nos EUA, aparecendo em músicas de artistas de hip-hop como LL Cool J, A Tribe Called Quest, Prince Paul, Juvenile, Mos Def e Ying Yang Twins.
E, claro, impossível esquecer "Baby Got Back", de Sir Mix-a-Lot, de 1992, com o verso "I like big butts and I cannot lie" ("eu gosto de bundas grandes e não vou mentir"), sampleada em "Anaconda".
Aos poucos, vieram cantoras famosas por seus traseiros, como Beyoncé, que no começo de carreira no grupo Destiny's Child cantava em "Bootylicious": "Não acho que você esteja pronto para essa geleia/ Porque meu corpo é bundelicioso' demais para você". A diferença é que agora o apreço por mulheres que não parecem modelos da Victoria's Secret finalmente atingiu o pop "mainstream".