Crítica drama
Alceu Valença mostra talento em filme com roteiro irregular
Músico dirige 'A Luneta do Tempo', musical sobre Lampião e Maria Bonita
Há muito o que admirar em "A Luneta do Tempo", estreia do cantor e compositor Alceu Valença na direção de filmes.
O musical sobre o cangaço e o folclore nordestino usa criatividade para superar a falta de recursos financeiros. A produção foi rodada aos poucos, a partir de 2009.
O filme começa mostrando as andanças do bando de Virgulino Ferreira (Irandhir Santos), o Lampião, e Maria Bonita (Hermila Guedes) pelo sertão, fugindo dos volantes comandados pelo temido Antero Tenente, vivido por Aramis Trindade.
Antero mata um dos homens de confiança de Lampião, Severo Brilhante (Evair Bahia). Em paralelo, se desenvolve a história de Nagib Mazola (Ceceu Valença, filho do músico), um argelino, dono de um circo itinerante.
Mazola é um conquistador, que engravida não só a esposa de Antero Tenente, mas a viúva de Severo Brilhante. Décadas depois, as crianças se encontram e continuam o legado de violência dos pais.
Alceu Valença mostra talento para dirigir cenas de ação, mesmo com poucos figurantes. A luta dos volantes contra o bando de Lampião torna o filme um autêntico faroeste sertanejo.
As cenas da chegada do circo de Mazola a um pequeno vilarejo têm um aspecto lúdico e um tanto felliniano.
"A Luneta do Tempo", no entanto, sofre de um grave problema de roteiro, também assinado pelo músico.
As cenas se sucedem aos pulos, passagens de tempo são simplórias e não há preocupação em explorar as motivações dos personagens. O que move Lampião em sua luta contra o "poder"? E Antero Tenente?
Um dos trunfos do filme é a música, de Alceu e Paulo Rafael. Mas ela é utilizada com tanta insistência --a primeira metade do filme é quase toda musicada--, que teria mais impacto em doses menores e mais marcantes.