Crítica - Música clássica
Regida por maestro polonês, Osesp faz concerto impecável
Aos 91 anos, Skrowaczewski conduziu grupo em obras de Berg e Bruckner
Quando o maestro polonês Stanislaw Skrowaczewski --à frente da Osesp nesta semana e na próxima-- nasceu, em 1923, Alban Berg (1885-1935) havia acabado de compor a ópera "Wozzeck".
Ele ainda levaria 12 anos para escrever o "Concerto para Violino", sua última obra. Com solos de Akiko Suwanai, a peça integra a temporada da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo em programa que traz ainda a "Sinfonia nº 4" de Anton Bruckner (1824-96).
O concerto de Berg é obra-prima que equilibra coração e cérebro. Ao moldar melodias e acordes a partir de uma série de 12 sons, utiliza o sistema de seu mestre Schoenberg (1874-1951); mas, simultaneamente, aceita os transbordamentos metafísicos do romantismo.
Começa com as cordas soltas do violino, como se ainda estivesse afinando; é minucioso no contraponto; insere ritmos populares de valsas e canções de ninar; e, no ponto culminante, cita literalmente o coral da "Cantata" BWV 60 de Bach (1685-1750).
Sem se deter apenas nas notas de Bach, Berg escreve o texto do coral na partitura dos músicos, como se uma comunicação transcendente pudesse emergir do puro som.
Nesta quinta (30), a Osesp esteve impecável, o público concentrado, e Suwanai imprimiu homogeneidade às notas duplas, acordes e pizzicatos alternados. A nota sol final, tantas oitavas quanto possível acima da corda solta do começo, parecia restar suspensa no céu, fora da sala.
Skrowaczewski não é apenas o responsável por uma das melhores integrais das sinfonias de Bruckner lançada nos últimos dez anos, mas, aos 91 anos, é o contato possível com o som de uma outra época.
Sua interpretação da "Quarta" de Anton Bruckner ressalta a ligação entre as seções, e o maior destaque foi o solo das violas no segundo movimento.
Vai ser estranho assistir à Osesp sem ver a cabeleira branca do trompista Ozéas Arantes: após 37 anos, ele deixa a orquestra, e leva consigo aquele som aveludado, de graves robustos e agudos delicados; homenageado, foi aplaudido de pé.