Favela do Rio sedia 'Olimpíada da poesia'
Disputa com poetas de 16 países é a 1ª do gênero na América Latina e acontece durante feira literária na periferia
Em sua terceira edição, evento faz homenagem a Abdias do Nascimento, um dos criadores do Dia da Consciência Negra
Na Grécia Antiga, quem declamasse poemas medíocres podia levar uns tabefes da audiência. Hoje, o público costuma ser menos raivoso, mas é a ele que os praticantes do poetry slam, competição de poesia falada, devem sua glória ou vergonha --o júri que elege o vencedor é escolhido aleatoriamente entre a plateia.
O primeiro campeonato internacional desse gênero na América Latina, o Rio Poetry Slam, acontece na favela da Mangueira, no Rio de Janeiro, a partir desta quinta-feira (13). A final será no domingo (16).
Competidores de 16 países tentarão ganhar o público da terceira edição da Flupp (Festa Literária Internacional das Periferias), que começa nesta quarta-feira (12).
O evento terá discussões sobre temas como a situação da mulher e o movimento indígena, além de homenagem ao ativista e parlamentar Abdias do Nascimento (1914-2011), um dos criadores do Dia da Consciência Negra.
A tradução dos poemas em língua estrangeira --há poetas falantes de alemão, francês, inglês e italiano-- será projetada ao fundo.
ESPORTE DA POESIA
No slam, a performance dura três minutos e é proibido recorrer a acompanhamento musical ou cênico.
"É você e a palavra", resume a curadora da disputa, Roberta Estrela D'Alva, 36. "Tem gente que diz que o slam é o esporte da poesia falada e os slammers são os atletas."
Ela acredita que a competição seja ideal para um evento como a Flupp, criado para formar novos leitores e autores na periferia das grandes cidades brasileiras.
"É uma desculpa para criar o interesse na poesia. Hoje existem mais de 500 comunidades de slam no mundo", diz Estrela D'Alva.
O objetivo de todo slammer é dar uma "pancada emocional" no espectador. "Slam [batida, em inglês] é poesia com impacto", diz o poeta português Alexandre Diaphra, que participa da disputa. "[No Brasil], geralmente temas fortes, políticos, funcionam", explica Estrela D'Alva.
Segundo a poeta, em 2008 havia apenas uma competição no país. Hoje, são dez.
O gênero nasceu nos Estados Unidos nos anos 1980 e chegou até a Casa Branca, que sediou uma disputa em 2009.
Estrela D'Alva vê com bons olhos a popularidade do slam --para ela, trata-se de um ato político. "Política também é conviver, pensar, conversar", afirma. "A gente faz política porque quer ser livre. Enquanto isso, a gente fica inventando o slam, o rap, a conversa."