Crítica - Musical
Mel Lisboa melhora atuação no humor em peça 'Luz Negra'
A ocupação do entorno da Luz --e da cracolândia-- é uma das poucas provas de que programas de fixação de grupos teatrais podem ter consequência concreta na cidade. E não apenas social, de inclusão, mas estética.
A Cia. Pessoal do Faroeste, do diretor Paulo Faria, já trocou até de sede-teatro na região --por enchente--, mas não sai dali nem muda de assunto. E encerra agora, com "Luz Negra", sua segunda trilogia inspirada pelo centro.
A primeira começou com "Os Crimes do Preto Amaral", em 2006, sobre um homem que morreu na prisão, inocente, mas chamado de "monstro negro". Seguiram-se peças sobre, por exemplo, a expulsão das prostitutas do Bom Retiro pelo prefeito Jânio Quadros, nos anos 50.
"Luz Negra", agora, é um musical que toma como cenário um programa de rádio da década de 1930 e interpreta, entre outros, sambas do compositor e militante Geraldo Filme (1927-95).
O foco é a pouca conhecida Frente Negra Brasileira, partido proscrito pelo Estado Novo. Conta uma outra história de São Paulo.
Faria busca e em grande parte alcança uma integração das canções engajadas, interpretadas por ótimos atores-cantores como Thais Dias e Raphael Garcia, com fatos e personagens históricos.
Figuras como Abdias do Nascimento (1914-2011), criador do Teatro Experimental do Negro, e o líder abolicionista Luiz Gama (1830-82) são celebradas no palco.
Mel Lisboa, que é atriz regular do Pessoal do Faroeste, nesta montagem acentua o contraste racial --com interpretação de crescente desenvoltura, sobretudo no humor.