Para Ancine, 'Jogos Vorazes' é 'predatório'
Agência Nacional de Cinema critica ocupação de quase 50% das salas brasileiras pelo terceiro filme da saga juvenil
Concentração dos grandes lançamentos em muitos espaços de exibição será discutida no próximo dia 26
Maior lançamento da história do país, "Jogos Vorazes: A Esperança --Parte 1" tinha, até a tarde de terça (18), exibição confirmada em pelo menos 1.310 salas --46% do total.
Na Grande São Paulo, o filme, que estreou à 0h01, havia sido confirmado em 226 salas (47%), com estimativas de beirar as 250 até a noite.
Para Manoel Rangel, presidente da Ancine, trata-se de uma ocupação "predatória".
A presença maciça desses grandes títulos em boa parcela do cicuito brasileiro também é motivo de críticas entre produtores e distribuidores de filmes mais autorais.
O tema será abordado no próximo dia 26. na próxima reunião da câmara técnica da agência, formada por profissionais da área para discutir temas como esses e outros relacionados à digitalização das salas de cinema.
A Folha conversou com o presidente da Ancine sobre o assunto.
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Folha - Qual é a posição da Ancine a respeito da concentração de um mesmo lançamento em vários cinemas?
Manoel Rangel - Não somos contra os grandes lançamentos, mas contra os lançamentos predatórios, que são os que ocupam muitas telas em poucos complexos. Esses grandes lançamentos têm uma importância para o movimentar o mercado, mas o que não pode ocorrer um lançamento predatório.
Quando um filme é lançado em mais de 1.300 salas, como "Jogos Vorazes", ele está expulsando outros, homogeneizando a oferta e acabando com a diversidade. O espectador que encontrar apenas um título em quase 50% das salas desiste. É menos ingresso sendo vendido e redução o hábito do cinema.
A Ancine estuda algum tipo de sanção a essa prática?
Lançamos uma notícia regulatória, aberta para consulta pública, que apontou uma série de distorções no mercado de distribuição e exibição, vinculados a digitalização Se não conseguirmos um entendimento, a Ancine estudará medidas efetivas para limitar essa ocupação predatória.
A sanção é quando a prática ruim for cometida. Mas a primeira opção é construir o entendimento, pontuar o equívoco entre os exibidores.
Qual seria o limite adequado para determinar que um filme está em muitas salas?
A França estabeleceu como limite 30% das telas por complexo. É um parâmetro, mas temos complexos com tamanhos diferentes.
Estabelecer uma cota de 30% num complexo de três salas é uma coisa. Mas num de 20 parece ser o razoável. É preciso haver uma gradação.
Me parece ser crucial ter haver um limite, mas ainda não temos nenhum determinado. Isso está em estudo. A Ancine apresentará alguns dos possíveis caminhos.
Exibidores dizem que com a digitalização, filmes podem ser programados em muitas salas sem ocupar todas as sessões.
Poderia ser, mas não é isso que tem acontecido. Os grandes filmes estão sendo lançados com ocupação de tempo integral. Essa flexibilidade é uma possibilidade, mas no geral não se aplica aos grandes lançamentos.
Não há risco de ceder ao mercado, como na crítica que se faz com a Lei da TV Paga?
Estranho esse raciocínio. No caso das salas, a preocupação da Ancine será garantir pluralidade, a diversidade.