Ney grava show mais roqueiro desde a fase no Secos & Molhados
No recém-lançado 'Atento aos Sinais - Vivo', cantor faz uma das apresentações mais vibrantes de sua carreira
Repertório inclui obras de Pedro Luís, Criolo, Caetano, Cazuza, Vitor Ramil, Lenine e Itamar Assumpção, entre outras
"O foco da minha vida é o show", diz Ney Matogrosso, que há tempos registra suas turnês em disco e DVD, como faz agora com o lançamento "Atento aos Sinais - Vivo".
Enquanto outros cantores caem na estrada para divulgar um álbum recém-lançado, Ney, 73, inverte essa lógica.
"Há alguns anos que eu não gravo o disco antes do show. A primeira concepção é a do espetáculo, e depois é que eu gravo. Quando gravei 'Atento aos Sinais' no estúdio, eu já estava há alguns meses fazendo o show."
Ele viu o DVD antes de sua última apresentação em São Paulo, no mês passado, e alterou um pouco sua atuação.
"Fiz coisas diferentes porque tive uma informação visual que não tinha até então. No último dia da turnê do 'Beijo Bandido' eu ainda coloquei uma coisa diferente. Ninguém percebe, só eu."
"Atento aos Sinais" é um dos shows mais vibrantes de sua carreira. Em seu pêndulo entre rock e MPB, é talvez o mais roqueiro desde seu momento revolucionário com os Secos & Molhados, em 1973.
Ney nunca fez show de seus grandes sucessos. Ele sempre traz material novo em seu repertório. Desta vez, canta autores que lhe são caros, como Pedro Luís, Caetano Veloso, Arnaldo Antunes, Lenine, Cazuza, Criolo e, com duas músicas cada, Vitor Ramil e Itamar Assumpção (1949-2003).
"Itamar é uma fonte inesgotável. Ele nunca teve a consagração popular que deveria ter. Gravei 13 músicas dele, desde 1986", diz o cantor.
O DVD destaca duas forças do show: a impressionante iluminação de Juarez Farinon e os figurinos. Ocimar Versolato fez o protótipo de algumas peças, e depois Ney trabalhou com Marta Reis. "A ideia desse show é que tudo brilhe. Mesmo que seja preto, tem que brilhar. Tem um começo rock and roll, todo escuro. Depois, fica prateado."
PLENA ATIVIDADE
Ney faz parte de uma geração de artistas da MPB que continua gravando e fazendo turnês relevantes depois dos 70 anos, como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Milton Nascimento, entre outros.
"Antes a pessoa não chegava a essa idade trabalhando. Estamos quebrando paradigmas. Mais uma vez. São pessoas que quebraram vários, que derrubaram preconceitos, e continuam coerentes com seu passado."
No caso de Ney, o impacto é ainda maior em razão da sua presença de palco. "Reconheço que minha coisa física impressiona porque ninguém espera que uma pessoa da minha idade tenha essa flexibilidade. Tenho-a porque me preparo para isso. A partir dos 56 anos passei a fazer ginástica. Antes tinha preconceito, achava que era coisa de americano."