Crítica - Romance
Aventura de Murakami traz busca por verdades universais
Livro do autor japonês retrata saga de personagem para desvendar trauma
Durante a adolescência, cinco amigos inseparáveis definem suas próprias personalidades por meio do relacionamento entre eles.
Com apelidos derivados de seus sobrenomes, Vermelho é o estudioso, Azul, o esportista, Branca é a bela, e Preta, a extrovertida.
Como uma quinta perna dispensável ao equilíbrio há Tsukuru Tazaki, o protagonista, que não tem o nome relacionado a cores e nem consegue definir sua própria personalidade. É o elemento neutro, sobrando entre dois casais, que teme ser expulso do grupo a qualquer momento.
Isso de fato acontece pouco depois que ele ingressa na universidade. Os quatro amigos o rejeitam sem explicações e Tsukuru mergulha numa depressão de seis meses, que o leva quase até a morte, seguido de anos de vazio que se estenderão até que ele decida resolver seu relacionamento com os amigos, já chegando à meia-idade.
Para isso, ele volta à sua cidade natal, redescobre quem seus amigos se tornaram depois de adultos e chega até uma cidade de veraneio na Finlândia, onde um deles reside atualmente.
"O Incolor Tsukuru Tazaki e Seus Anos de Peregrinação", romance mais recente do escritor Haruki Murakami, um dos autores mais importantes do Japão atual, vendeu 1 milhão de cópias só em seu mês de lançamento.
FÁBULA
Escrito numa prosa objetiva com diálogos didáticos, o que o assemelha a uma fábula realista, é digerido facilmente e parece bem menor do que suas 300 e poucas páginas.
Na história da literatura não faltam protagonistas apáticos --talvez uma projeção idealizada de tantos autores emocionalmente derramados-- mas o "incolor" de Murakami cumpre o seu papel exatamente ao investigar seu lugar e sua responsabilidade no mundo.
Ao longo da narrativa, nem todas as perguntas são respondidas, mas a chave para a conclusão parece estar no próprio título, fundamentando a existência do romance durante os anos de peregrinação de Tsukuru.
Se seus personagens monocentrados só poderiam ter nascido no Japão, suas buscas não deixam de ecoar verdades universais.