Crítica - Musical
Peça com canções de Odair José provoca tédio ao apostar em fórmula esgotada
Na onda de musicais que resgataram os repertórios de Tim Maia, Chico Buarque, Cássia Eller, Elis Regina, Milton Nascimento, Cazuza, Lupicínio Rodrigues e Rita Lee, chegou a vez do compositor e cantor Odair José ser homenageado em cena.
Para conseguir existir como obra original, "Eu Vou Tirar Você Deste Lugar", em cartaz no CCBB com dramaturgia e direção de Sérgio Maggio, tem então de enfrentar esse modismo em dose cavalar imposto ao teatro pela indústria cultural.
Tecnicamente bem executada e cenicamente vistosa, a montagem acaba enfraquecida nesse lugar estranho chamado falta de assunto.
O resultado é uma espécie de paradoxo, principalmente porque as lindas canções de Odair José, entre elas "Cadê Você", merecem toda a atenção nesse momento em que a nostalgia tornou-se uma fonte de inspiração para o circuito comercial.
O espectador que não viu outras peças do gênero tem mais chance de gostar. Mas quem viu alguns dos trabalhos acima citados corre o risco de ser tomado por uma forte sensação de déjà vu --e de se entediar, no fim das contas.
A peça reproduz um procedimento cênico comum: ela encontra na farsa e na revista um tipo de interpretação que possibilita intercalar canções no corpo da dramaturgia. A farsa trabalha estereótipos, e todas as peças que dela se serviram, juntas nessa onda, formaram um álbum de figurinhas. Tudo ficou meio igual, pasteurizado.
De qualquer forma, as canções de Odair José, bregas no bom sentido e muitas vezes bem-humoradas, combinam demais com o tom farsesco.
Pelo palco, desfilam personagens femininas, figuras de bordéis, uma empregada doméstica, um pai moralista e seu filho que quer ser músico e cair na estrada.
Destacam-se, no elenco, Jones de Abreu e a cantora Watusi, que arrasa no seu timbre parecido com o de Sarah Vaughan. A banda no centro da cena, assim como os arranjos, também merecem elogios. Os solos são melhores do que os coros.
Talvez não seja justo culpar "Eu Vou Tirar Você Desse Lugar" por um problema que pertence a um cenário inteiro. Mas, ao usar neste momento uma combinação à beira do esgotamento, a peça perde parte de sua força.