Para diretores, limite a blockbuster vem tarde
Não há consenso no meio cinematográfico sobre como o mercado reagirá à restrição aos grandes lançamentos
'A medida ajuda, mas não é varinha mágica', diz programador do Espaço Itaú; comissão avaliará desempenho
Para parte dos diretores, distribuidores e exibidores do país, a medida anunciada pela Ancine que limitará a ocupação das salas de cinema pelo mesmo título é bem-vinda. Mas não há consenso sobre como o mercado reagirá a ela em 2015, ano de grandes lançamentos hollywoodianos.
"A medida ajuda, mas não é nenhuma varinha mágica", diz Adhemar Oliveira, diretor de programação do Espaço Itaú. "Mesmo com a limitação, um cinema pode lotar nove de suas salas com apenas três filmes. Cadê a diversidade aí?"
Segundo ele, o maior gargalo é o pequeno número de salas de cinema no Brasil.
O acordo já veio tarde, segundo os cineastas André Klotzel ("A Marvada Carne") e Cláudio Assis ("A Febre do Rato"). "Já falamos disso há dez anos. Na França o filme paga mais imposto quando ocupa muitas salas", diz Klotzel.
Ele diz que o mercado hoje vive uma "liberdade abusiva". "É preciso tratar de forma diferente lançamentos que são diferentes", afirma o diretor.
Assis defende uma cota de tela ainda maior (o máximo estabelecido é 35%). "O nosso filme é expulso das salas pelas produções estrangeiras."
"Esse limite só vai reforçar a posição do filme nacional competitivo por um bom espaço no circuito", pondera Bruno Wainer, diretor da distribuidora Downtown Filmes.
"A ocupação predatória é imposta pela força econômica das corporações internacionais, e não necessariamente pela demanda do publico por um determinado titulo."
Diretor da Paris Filmes, que distribuiu "Jogos Vorazes" no país, Marcio Fraccaroli também se disse favorável à cota (ele integra a câmara técnica da Ancine). Apesar de já ter se manifestado contra uma intervenção do Estado em ocasiões anteriores, disse que a decisão foi "normal e democrática".
"A intervenção nunca é bem-vinda, mas não foi uma atitude tomada de cima para baixo", diz Paulo Lui, presidente da Feneec (Federação Nacional das Empresas Exibidoras Cinematográficas). "Alguns exibidores se opõem, mas no geral há entendimento."
Lui não crê que a regra vá ser infringida. "O mercado está mais profissional. Não há mais exibidores amadores."
Os membros do setor convocados para debater o tema pela Ancine propuseram a criação de uma comissão que irá avaliar o desempenho da medida em 2015.