Crítica drama
Falta algo a filme colombiano para superar limite da imitação da vida
Longa reafirma aposta da safra recente do cinema latino no drama naturalista
"Karen Chora no Ônibus" é mais uma prova de que o drama naturalista está dominado na América Latina.
Realizado em 2011 e só agora lançado no Brasil, o longa de estreia do diretor colombiano Gabriel Rojas Vera reafirma características de uma certa safra latina recente.
A saber, a aposta em um realismo intimista, que evita a alegoria sociopolítica; o cuidado com a construção do protagonista; personagens influenciados por seu meio, mas não determinados por ele; e os silêncios tão valorizados quanto os diálogos.
Quase sempre diante da câmera está Karen (Ángela Carrizosa). Na primeira cena, justifica o título: é flagrada chorando em um ônibus de Bogotá. Como o diretor dribla também o psicologismo, não sabemos o porquê.
Mas, aos poucos, o filme nos apresenta o momento de Karen: depois de se separar de um marido burguês, ela se abriga em uma espelunca, começa a aplicar pequenos golpes para sobreviver e se torna amiga de uma cabeleireira que possui aquilo que parece lhe faltar: vitalidade.
Em um filme tão centrado em um personagem, o desempenho da atriz se torna fundamental. E Carrizosa se mostra à altura, com rosto ao mesmo tempo expressivo e indecifrável. Mas, se por um lado o longa mostra as virtudes do naturalismo, por outro esbarra em suas limitações. Falta algo que o faça transcender a imitação da vida, seja o risco, o humor, a fantasia.
É uma barreira que outros filmes latinos recentes --como o chileno "Gloria" ou o venezuelano "Pelo Malo"-- souberam ultrapassar. Mas que se torna a linha de chegada de "Karen Chora no Ônibus".