Crítica serial
LUCIANA COELHO coelho.l@uol.com.br
'Vikings' distrai até séries clássicas voltarem
Saga sobre rei de lendasnórdicas funciona ao juntaração e apelo histórico, mas deve sofisticação dramática
Fãs em CRISE de abstinência até a volta de "Game of Thrones", em abril do próximo ano, ou saudosos da finada "Roma" podem tentar suprir a carência com o drama de aventura "Vikings", do History Channel, cujas duas temporadas foram disponibilizadas na Netflix e uma próxima acaba de ser anunciada nos EUA para fevereiro.
Não espere a mesma sofisticação de roteiro --além de boa aventura, "Game of Thrones", afinal, é um bem afinado drama político. Tampouco a quantidade de sangue e o sexo da série da HBO (aqui, as pessoas fazem sexo vestidas e cortam cabeças sem exibi-las às câmeras).
Mas, com apelo histórico e mitológico farto, cenas de batalha produzidas com competência e uma saga bem construída reunindo uma fieira de personagens quase comparável à da prima rica, "Vikings" cumpre bem o papel de entreter.
A série acompanha a ascensão do rei Ragnar Lothbrok (o australiano Travis Fimmel), figura frequente em lendas e na tradição nórdica como conquistador de porções do que hoje é a Inglaterra e a França.
Obcecado por construir um barco e navegar rumo ao oeste, Ragnar acaba subvertendo a ordem vigente em um período da Idade Média em que tudo na Europa colapsava.
Com um elenco majoritariamente masculino, "Vikings" traz poucas caras conhecidas --as exceções são Donal Logue, de "Gotham", como um rei, e o veterano Gabriel Byrne, de "In Treatment" e do filme "Os Suspeitos", como um nobre-- e interpretações sinceras.
A ação, porém, compensa qualquer deficit, bem como a interessante reconstrução da época e do dia a dia dos vikings, uma sociedade de nômades e guerreiros/navegadores da qual se tem muito menos registro do que, por exemplo, gregos e romanos (a produção é de Michael Hirst, nome por trás de dramas históricos como "Os Tudor").
Nos EUA, a série teve boa audiência, apesar de ser produção mais modesta para os padrões da nova-era-de-ouro-da-TV, e passou semanas em primeiro lugar da lista de mais baixadas do iTunes.
Articulistas americanos explicaram o sucesso como um contraponto à onda de anti-heróis modernos que varre a TV dos EUA desde que Tony Soprano sentou-se para fazer terapia em "Família Soprano", da HBO, em 1999.
Faz sentido. Ragnar, afinal, é um herói clássico, ainda que em tempos violentos, com ideais e habilidades que o distinguem positivamente de seus pares selvagens.
Para quem quer ver TV no Natal, mas se cansou da reprise de "O Mágico de Oz", o Netflix indica uma lista de episódios que celebram a data em séries superpopulares como "Friends" e "Modern Family".