Robert Duvall dirige a mulher em faroeste
Ator e diretor retorna a universo de seu personagem favorito, um xerife da minissérie 'Lonesome Dove', de 1989
Em entrevista coletiva, cineasta prefere falar sobre futebol e cavalos a entrar em detalhes de seu filme, 'Wild Horses'
Nem "O Poderoso Chefão" (1972), nem "Apocalypse Now" (1979). Para Robert Duvall, o melhor trabalho de sua carreira de mais de cinco décadas foi na minissérie de faroeste "Lonesome Dove" (1989), no qual viveu um policial Texas Ranger aposentado ao lado de Tommy Lee Jones.
"Foi meu personagem favorito, meu Hamlet'", disse Duvall, 83, num hotel de Los Angeles. "Ainda que O Poderoso Chefão' tenha sido melhor dirigido... Havia alguns problemas em Lonesome Dove'."
Duvall estava com oito jornalistas do mundo, mas ele queria mesmo era conversar sobre Brasil, futebol e cavalos, além de "Wild Horses", novo filme que dirigiu, ainda em fase de montagem.
"Você é do Rio? De São Paulo? São Paulo é uma cidade dura, não?", comentou com a repórter da Folha. "O Pelé é de São Paulo? Sabe que eu vi ele jogando futebol quando ele tinha 16 anos?"
Um jornalista italiano interrompe o ator para perguntar quem é o melhor, Pelé ou Maradona. "Messi é o melhor", ele responde com uma risada, batendo a mão fechada na mesa. "Messi é ótimo, só teve um dia ruim na Copa. Mas todos são bons, são épocas diferentes."
ARROGANTES
O ator também falou, duas vezes, que conheceu o cavaleiro brasileiro Nelson Pessoa, o Neco, pai de Rodrigo Pessoa. "Talvez o melhor cavaleiro de todos os tempos. E seu filho ganhou tudo também", disse. "E agora os brasileiros dominam os nossos rodeios, estão indo muito bem. Os argentinos são muito arrogantes para vir aqui e tentar", continuou, rindo.
Duvall é casado com a atriz argentina Luciana Pedraza desde 1997. Ele fala espanhol, adora dançar tango e costumava visitar a Argentina com frequência.
"Faz uns três anos que não vamos. É muita corrupção. Eu amo Buenos Aires, mas há muitos negócios que não deram certo, tem que tomar cuidado ao fazer negócios por lá", disse. "Uma vez tiramos 100 pesos num caixa eletrônico e vieram dez notas falsas!"
Pedraza, que é 40 anos mais nova do que Duvall, apareceu em "O Tango e o Assassino" (2002), filme em que ele atuou, além de produzir e dirigir. Ela também está na nova produção do marido, "Wild Horses", junto com James Franco e a mexicana Adriana Barraza.
"É meio que um faroeste, sobre um possível crime que uma Texas Ranger [Pedraza] vai investigar. Usamos xerifes de verdade, gosto de usar pessoas da rua e transformá-las em atores porque elas não têm hábitos ruins", contou Duvall. "Dirigir é uma continuação de atuar. Está tudo conectado."
O ator comentou que Pedraza é faixa azul em jiu-jítsu e que um de seus professores brasileiros faz uma ponta em "Wild Horses" como um traficante de drogas.
Ao ser questionado sobre o legado que quer deixar no cinema, Duvall respondeu: "Não sei, vou deixar o que deixar. Sou um ator, tento fazer o melhor que posso. Do berço ao cemitério, a gente tenta não machucar muitas pessoas", disse, pensativo. "Espero ser lembrado como um bom ser humano, em primeiro lugar. Em segundo, pode vir qualquer outra coisa."