Filme francês arranca risos com crimes
Em "Se Fazendo de Morto", diretor parte de notícia de jornal para amarrar piadas sobre uma investigação policial
Jean-Paul Salomé explica o sucesso do cinema de seu país pela diversificação de gêneros produzidos
Um ator desempregado, que já ganhou na juventude um César (o Oscar francês), aceita proposta para atuar na reconstituição de um crime.
Esse é o argumento da comédia francesa "Se Fazendo de Morto", de Jean-Paul Salomé (de "O Fantasma do Louvre"), que estreia no próximo mês no país.
Jean Renault (não confunda com Jean Reno), vivido pelo belga François Damiens ("A Delicadeza do Amor"), parte então para uma pacata cidade de montanhas cheias de neve onde atuará em uma complicada investigação policial de um assassinato.
Salomé conta, em entrevista à Folha durante visita ao Brasil, que costuma pensar seus roteiros a partir de notícias de jornal. "Li uma entrevista com um ator desempregado que, num momento difícil da carreira, tinha recebido a proposta da Justiça de ir trabalhar em cenas de crime."
Ele resolveu, então, o gênero do filme. "Transformar esse tema sombrio em comédia me animou", diz. O resultado é uma comédia policial com uma pitada de romance.
O ator belga que encarna o papel principal é uma espécie de nova sensação do cinema francês --ele também está em "A Família Bélier", já em cartaz no Brasil. "Meu filho me mostrou na internet seus esquetes para a TV e achei que Damiens tinha uma força de humor, de estranheza, de bizarrice", conta.
"Damiens tem, além de sua maneira de se mexer, esse corpo estranho, e eu precisava de alguém assim para ser um corpo estranho no interior de uma cena de crime."
CINEMA FRANCÊS
Além de cineasta, Salomé é o presidente da Unifrance, organização que promove o cinema francês na França e no mundo. No Brasil, a produção do país ocupa o terceiro lugar em público e em número de lançamentos, atrás apenas dos Estados Unidos e do cinema nacional, na frente da Argentina, por exemplo.
Em 2013, 14% das estreias em salas brasileiras foi de longas franceses. Salomé explica o sucesso do cinema de seu país pela diversificação de gêneros produzidos. "Fazemos cinema de arte, mas também fazemos comédia e filmes de aventura", diz.
O campeão francês de bilheterias no exterior este ano foi "Lucy", de Luc Besson, com Scarlett Johansson.
Com a recente estagnação do mercado francês, cujo número de espectadores não deve crescer e onde o cinema nacional já é responsável por 45% dos lançamentos anuais (no Brasil, em 2013, os lançamentos nacionais corresponderam a 29%), o alvo são os espectadores estrangeiros.
"Precisamos nos financiar com dinheiro que venha de fora, então devemos conseguir público sendo mais agressivos no exterior", diz. "Trabalhamos muito agora na China, um grande mercado, e estudamos a África, onde o mercado ainda não existe, mas deve existir em breve."
No Brasil, considerado um mercado tradicional para o cinema francês, o maior na América Latina, só resta à Unifrance ampliar o número de salas onde são exibidos seus filmes, fazendo-os chegar aos multiplex dos shoppings. "Queremos chegar cada vez mais perto do segundo lugar", arremata.