Crítica - Teatro/Drama
Montagem psicológica tira força de 'As Criadas'
Personagens da peça de Genet surgem infantilizadas na versão do grupo Tapa
Duas décadas atrás, o grupo Tapa montou Nelson Rodrigues se concentrando na narrativa psicológica, familiar, deixando de lado as faces mítica e expressionista do autor, então mais usuais.
Foi encenação conservadora, mas paradoxalmente reveladora --à época, num ambiente de exaustão com experimentalismo-- de possibilidades esquecidas ou desconhecidas do autor.
A adoção do mesmo procedimento para o francês Jean Genet, com o diretor Eduardo Tolentino de volta ao teatro Aliança Francesa e com as mesmas atrizes Denise Weinberg e Clara Carvalho, não é tão bem-sucedida.
Nesta versão de "As Criadas", despojadas de seu caráter social ameaçador, criminoso, as empregadas Solange (Weinberg) e Clara (Carvalho) surgem infantilizadas.
Como crianças, as irmãs vivem uma narrativa só delas, um jogo em que a entrada de Madame não passa de um intervalo, sem maior impacto na encenação ou na trama.
Não se percebe opressão, conflito de classe, e os seus ensaios para o assassinato de Madame se tornam meras brincadeiras. A figura da patroa surge maternal, até bondosa.
O caminho escolhido pela encenação se expressa muito no cenário e nos objetos, nos quais Solange e Clara brincam com as roupas, joias, maquiagem, mais como prole que como criadagem.
Com as limitações de criação de arte já conhecidas do grupo, entre móveis e tecidos juntando poeira, o que se vê em cena não retrata sequer o projeto expresso de uma casa de bonecas.
Sobretudo, o que a opção psicológica, naturalista, fez foi debilitar as personagens, em que pese a qualidade também já conhecida e sempre confirmada de Weinberg e Carvalho.
Por outro lado, vista no primeiro fim de semana, a representação de ambas ainda parecia em evolução e, com o tempo, talvez encontre o elo com a criminalidade.