Adaptação para o cinema ignora unidade do livro, diz irmã do autor
Considerado inadaptável por muitos, o livro "Viva a Música!" teve sua primeira versão para o cinema exibida na semana passada no Festival de Sundance, nos Estados Unidos, e dividiu opiniões.
"O que eu recomendaria é que leiam o livro, porque, sendo muito honesta, achei o filme bastante incoerente", disparou Rosario Caicedo, irmã do autor, ao fim da sessão.
A assistente social aposentada, que mora em Connecticut, do outro lado do país, viajou a Park City porque estava curiosa para ver o filme.
"O romance tem uma unidade poderosa, ignorada do começo ao fim. Você testemunha o destino trágico da personagem quase dançando."
O produtor Rodrigo Guerreiro disse que conseguir os direitos da obra foi fácil e que a família considerava que já era hora de haver uma adaptação da obra para as telas.
À Folha, a irmã de Caicedo --16 meses mais velha que o caçula, mas mais nova que as outras duas irmãs-- contou que foi voto vencido na hora de vender os direitos. O espólio é administrado pelas três.
A produção, dirigida por Carlos Moreno, mostra algumas situações vividas pela protagonista María del Carmen (Paulina Dávila), mas passa longe de ser fiel à obra.
Há poucas referências à época da trama, que se passa nos anos 1970 (a certa altura fala-se no euro, moeda de 1995), e a protagonista é vivida por uma atriz mais conhecida por papéis em telenovelas e cujo principal atributo é se parecer com a cantora Shakira. A trilha sonora também não leva muito em conta as referências do livro.
"Fizemos um filme inspirado no livro, o que é diferente de adaptar", disse o diretor. "Foi complexo, porque sabíamos que não chegaríamos à profundidade e à complexidade do romance."
Segundo ele, o objetivo foi manter "o aspecto de manifesto da obra, de rebelar-se contra uma sociedade e entregar-se à festa, apesar do que digam". "Não sei se conseguimos cumprir esse objetivo. Isso o espectador é quem vai poder dizer."