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Análise
À luz da física, tempo passaria bem mais devagar para McFly
Se Robert Zemeckis fosse um diretor mais nerd e mais preocupado em adequar seus filmes às leis da física, a série "De Volta para o Futuro" teria de ser rebatizada com o título "Passagem Só de Ida para o Futuro".
E, falando nisso, esqueça as famosas 88 milhas por hora que fazem o DeLorean dos filmes acelerar pelo espaço-tempo. A velocidade correta para conseguir essa proeza teria de se aproximar dos 300 mil km/h, ou seja, a velocidade da luz.
Isso porque os físicos sabem, desde os trabalhos seminais de Albert Einstein (1879-1955), que a passagem do tempo pode ser fortemente distorcida da perspectiva de um objeto que acelere muito ou que seja submetido a um campo gravitacional muito forte.
O jeito mais simples de entender isso é pensar no espaço e no tempo como uma coisa só, formada por quatro dimensões (as três do espaço mais a dimensão temporal). Agora, considere que, nessas quatro dimensões, a maior velocidade que é possível alcançar é a da luz --dela ninguém nem nada consegue passar.
Desse ponto de vista, até quem está parado nas três dimensões do espaço continua viajando na velocidade da luz --só que pela dimensão do tempo. Basta entrar em movimento no espaço, porém, para que o tempo comece a passar um pouquinho mais devagar, já que a soma de todas as velocidades no espaço-tempo tem de dar sempre o mesmo valor, os famigerados 300 mil km/h.
Isso significa que, caso o DeLorean fosse acelerado a uma fração significativa dessa velocidade, o tempo passaria bem mais devagar para Marty McFly, da perspectiva de quem não está dentro do carrão. Na prática, ao desacelerar o carro, ele teria viajado para o futuro sem envelhecer, enquanto o tempo passaria na velocidade usual para sua complicada família.
Tudo isso, aliás, tem comprovação experimental --os aparelhos de GPS, por exemplo, levam em conta a ligeira distorção temporal causada pela viagem dos satélites que os abastecem de dados em órbita da Terra.
Na prática, claro, a teoria é outra. Ainda não dispomos de um combustível capaz de acelerar um DeLorean a essas velocidades doidas, e os passageiros seriam bombardeados por doses cavalares de radiação, entre outros problemas.
E as jornadas ao passado? Algumas soluções das equações de Einstein sugerem que seria possível curvar o espaço-tempo a ponto de voltar a 1955. Mas, para isso, precisaríamos de formas exóticas de matéria e energia que muito provavelmente não existem. Ademais, se voltar ao passado fosse possível, por que o mundo não está cheio de turistas chatos do futuro tentando tirar selfies conosco?