Xeque-mate
Políticos brasileiros rejeitam comparação com 'House of Cards', cuja terceira temporada estreia hoje na Netflix
O ardiloso político Frank Underwood manipulou todos à sua volta nas duas primeiras temporadas de "House of Cards", mas começa a enfrentar suas primeiras dificuldades no terceiro ano da série, que estreia nesta sexta (27) na Netflix. (Atenção, esta reportagem contém spoilers.)
Quando terminou a segunda temporada, disponibilizada no serviço há um ano, Underwood (Kevin Spacey), que começou a produção como deputado, atingiu seu objetivo máximo: tornar-se presidente dos EUA após causar a renúncia de seu antecessor.
Seu mandato, porém, não começa fácil. Com aprovação baixa e sem apoio do partido, o político tenta emplacar um projeto arriscado para ampliar o emprego reduzindo programas de governo.
Em seu momento mais baixo, é sua mulher, Claire (Robin Wright), quem se encarrega de levantá-lo. Se nas primeiras temporadas ela já era destaque, nesta chega ao pé de igualdade com o marido.
No primeiro episódio, ela entra na briga para se tornar representante do país na ONU, relutante em se contentar como primeira-dama.
Em entrevista à revista "The Hollywood Reporter", o criador da série, Beau Willimon, desconversou sobre o futuro do casal Underwood.
"Dá para Frank subir ainda mais? A única direção possível é para baixo? Ele lutará para permanecer no topo? Tudo isso é possível", disse.
Vencedora de dois prêmios no Globo de Ouro, a série colocou de vez a Netflix no papel de protagonista no cenário televisivo, popularizando o "binge watching" --ver um episódio atrás do outro.
NO BRASIL
Deputados brasileiros que assistem ao seriado, que mostra todas as tramoias por trás do governo americano, dizem que "House of Cards" é um bom retrato --ainda que exagerado-- dos bastidores da política, mesmo no Brasil.
"Traduz com muito realismo as tramas da política, onde traição, ambição, poder, lealdade e dissimulação surgem com muita força", relata o deputado federal Antonio Imbassahy (PSDB-BA), que assistiu à primeira temporada. "Na política no Brasil também há armadilhas, ciladas, dissimulação."
Mendonça Filho (DEM-PE), por sua vez, ressalta que há diferenças entre o sistema político brasileiro e o americano. "A política nas democracias ocidentais tem algo de semelhante, mas os EUA têm um bipartidarismo consolidado, com um Congresso com mais protagonismo", afirma.
O deputado diz não imaginar que uma figura como Underwood --que define como "do mal", por recorrer ao crime para subir na carreira-- exista hoje. "Não imagino isso acontecendo no Brasil. Muito menos nos EUA", afirma, lembrando que o personagem chega a matar um colega.
Para o deputado Lucio Vieira Lima (PMDB-BA), Underwood engloba todas as qualidades e defeitos dos políticos. "É um conjunto de personagens, não tem alguém que encarne tudo aquilo."
A revista "IstoÉ" comparou o protagonista a Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara, o que repercutiu em veículos internacionais como a revista "The Economist".
Ao "Valor", Cunha respondeu: "Acho um absurdo. Eu vi essa série. Existem três diferenças clássicas, ali: o cara é um assassino, um corrupto e ainda é um homossexual. Não dá para aceitar a comparação. É ofensiva".
Para Arlindo Chinaglia (PT-SP), que disputou a presidência da Câmara com Cunha, a série não abarca a complexidade da vida política americana. "Há verdade ali, é um mundo cínico, mas é uma caricatura", afirma.