Critica cinema/drama
Longa francês sobre sonhos da juventude tem ritmo repetitivo
Depois de dirigir curtas premiados, Damien Manivel estreia no longa com "Um Jovem Poeta", reflexão sobre sonhos da mocidade, que recebeu a Menção Especial no último Festival de Locarno (Suíça).
A figura central é o pós-adolescente Rémi (Rémi Taffanel), que quer ser poeta --desejo que traz a ambição característica dessa fase da vida. Quer exaltar a existência e as sensações com palavras, segundo o velho clichê romântico.
Em busca de inspiração, vagueia pela cidade de Sète, na costa mediterrânea francesa, onde passa as férias. Anda pelas ruas empunhando uma caderneta e uma caneta, contempla o mar, mergulha nele, sobe num penhasco, procura palavras numa biblioteca, explora a noite, embriaga-se.
Rémi também visita o cemitério, onde passa longos momentos diante da tumba de Paul Valéry (1871-1945) --não por acaso um poeta que refletiu sobre seu ofício.
Não falta a jovem musa, Léonore (Léonore Fernandes), a quem se declara improvisando uma canção. Nessa longa errância, Rémi revela toda a sua falta de jeito, toda a inexperiência diante da realidade. Em alguns episódios, esse lado atrapalhado e afoito tem conotação melancólica; em outros, burlesca.
Se o personagem é desengonçado, a organização da narrativa prima pelo rigor. Cada cena é formada por planos fixos, isolados do resto do filme por um plano azul-céu com um título. Os enquadramentos são estudados, destacando as belas paisagens.
Mas o apurado arranjo formal peca pelo ritmo, que desanda quando as situações começam a se repetir. A busca de Rémi só ganha outro sentido nos cinco minutos finais, quando ele perde a soberba adolescente, faz um balanço da jornada e "dialoga" com Valéry. Manivel poderia ter narrado isso na metade do tempo.