Festival De Teatro De Curitiba
Evento une peças sobre conflitos do mundo islâmico
'A House in Asia' e 'Post Scriptum' partem de pesquisas documentais para produzir encenações bem diferentes
Proposta dos textos é tentar compreender o que os noticiários não mostram sobre conflitos políticos e religiosos
Estrategicamente avizinhados na largada desta edição do Festival de Curitiba, dois espetáculos da Mostra Oficial trazem histórias que têm como pano de fundo os conflitos no mundo islâmico.
Apresentada na quarta (25) e na quinta (26), "A House in Asia", do espanhol Agrupación Señor Serrano, abordou a questão a partir de pesquisa minuciosa sobre a caçada dos EUA a Osama bin Laden.
E nesta sexta (27) "Post Scriptum" põe lupa sobre a família de um palestino cuja trajetória desembocou no Brasil.
Em comum, ambos tentam compreender o que o noticiário não dá conta. E aproximam o público de novos pontos de vista para a construção de um imaginário histórico.
"Fixamo-nos em um tema, que é colocado sob um microscópio", diz Pau Palácios, que assina a concepção de "A House in Asia" com Alex Serrano. "Desmembramos o tema em pedaços para depois voltar a encaixar as peças."
Embora ficcional, a peça dos espanhóis se constrói sobre estudos documentais. A planta da casa em que Bin Laden se escondeu no Paquistão é usada como elemento cênico. A companhia também se baseou em informes da inteligência paquistanesa e de relatos coletados na internet.
O grupo usa brinquedos eletrônicos, vídeos e outros dispositivos para construir uma narrativa. "Utilizamos uma linguagem pop para criar significados que não são nada ingênuos", conta Serrano.
Ao colar "A House in Asia" e "Post Scriptum" na grade, a curadoria aponta ainda os contrastes entre as obras.
"Post Scriptum" também é elaborada a partir de estudos literários, mas cria conflitos de ordem íntima. Sob a ótica de dois irmãos que tentam compreender o sumiço do pai palestino, a história faz trajetos entre o imaginário contemporâneo e personagens míticos revelados por textos antigos.
Segundo Samir Yazbek, que assina texto e direção, a figura dos dois irmãos alude à história de Isaac e Ismael, filhos de Abraão, tendo o primeiro dado origem à nação judaica, e o segundo, aos árabes.
Busca-se na parábola familiar, diz Yazbek, "a ideia utópica de que judeus e árabes são povos irmãos". A peça também foi concebida por Helio Cícero, que atua ao lado do estilista e ator Fause Haten.