Prefeito Haddad vai a sarau com músicos em São Paulo
De paletó e com cerveja na mão, político participa de encontro no Alto da Lapa
Noite organizada por produtor do grupo Teatro Mágico reuniu cerca de 300 artistas para 'ouvir música boa'
Em uma casa de classe média alta de São Paulo, na rua Carapuruí, no Alto da Lapa, cerca de 300 pessoas se reuniram para um sarau com a presença do prefeito da cidade, Fernando Haddad (PT), 52, e de seu secretário de Cultura Nabil Bonduki (PT), 60.
Além dos políticos, músicos, produtores e artistas, em sua maioria jovens entre 25 e 35 anos, circularam nesta quarta (25) pelas dependências do imóvel que comporta uma pequena piscina e confortável jardim. Cerveja? Gelada, gratuita e aos montes.
Duas enormes faixas "#MÚSICA PARA OUVIR" no local deixavam a dúvida: hashtag ou sustenido?
O encontro foi articulado por meio do WhatsApp, aplicativo de troca de mensagens por celular. A cantora Tiê, suas colegas Juçara Marçal e Patrícia Bastos, além de representantes da música instrumental da cidade estavam lá.
Na sala, rolavam canjas com participação dos pianistas Amilton Godoy e Laércio de Freitas, entre outros. Segundo Gustavo Anitelli, 32, dono da casa e produtor do grupo Teatro Mágico, o encontro serviu para "trocar ideias" e "ouvir música boa", e deve ocorrer de novo em um mês.
De paletó --usado, aliás, para abrir uma cerveja longneck--, Haddad conversava com convidados. O sarau não estava em sua agenda oficial.
Mas o que o prefeito fazia lá? O que toda essa gente fazia naquela casa, em plena quarta, enquanto o Palmeiras vencia o São Paulo, com direito a gol de meio de campo? A Folha foi lá descobrir.
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Folha - Prefeito, qual o motivo de o senhor estar aqui?
Fernando Haddad - Fui convidado para um sarau, que congrega músicos de vários gêneros que têm uma perspectiva de cidade com a qual eu comungo. É mais libertária, valoriza o espaço público e a ocupação mais generosa da cidade, com a interação com várias tribos que estão aqui reunidas.
A cidade precisa mudar os seus registros --e a cultura tem muita sintonia com esta mudança que a administração propõe, que é a valorização da cidade como "locus" onde as pessoas se encontram, compartilham experiências e promovem o intercâmbio de saberes, que é o que procuramos valorizar.
A cultura é um elemento central de um projeto desse.
Às vezes, as pessoas falam de mobilidade urbana, por exemplo, faixas de ônibus e ciclovias e eu sempre insiro esta questão no plano da cultura. Falo: "Não é um projeto de mobilidade, é um projeto cultural". Porque o que está em jogo é uma visão de cidade, e sem o apoio de quem produz cultura é muito difícil esse modelo prosperar.
Política cultural será discutida no próximo sarau?
Vai além disso. As mudanças em qualquer das áreas de intervenção do poder municipal na verdade têm como pano de fundo uma mudança de cultura.
Como reage à diminuição que está havendo no orçamento destinado à cultura?
Temos um compromisso com o setor cultural de chegar a 2% das receitas do município. Aí estou falando de cultura "stricto senso". Fomento às várias linguagens teatro, dança, cinema, música e assim por diante.
O senhor prevê cortes?
Não.
Qual gênero musical que o senhor mais aprecia?
Já tive várias fases. A minha fase inicial foi o rock'n'roll com os Beatles e tal, mas, hoje o que ouço mais é o violão clássico.